segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

*** A Criança é Feita de Cem ( Loris Malaguzzi*)

A criança é feita de cem.

A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar.

Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar.

Cem alegrias para cantar e compreender.

Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar.

Cem mundos para sonhar.

A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove.

A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo.

Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar,

De compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal.

Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e, de cem,

roubaram-lhe noventa e nove.

Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação,

O céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas.

Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem.

Sobre o Autor - *Loris Malaguzzi, professor italiano que criou a abordagem educativa mais tarde nomeada como “abordagem Reggio Emilia”, nome homônimo à cidade onde foi concebida.

***OBSERVAÇÃO - POSTAGEM SEMELHANTE EM https://smapeixoto.blogspot.com/2017/11/infancia-cem-linguagens.html (sábado, 25 de novembro de 2017).


sábado, 13 de fevereiro de 2021

Loris Malaguzzi, o criador da abordagem Reggio Emilia


Quem foi Loris Malaguzzi, o criador da abordagem Reggio Emilia

                                    Por LEONARDO PUJOL postado em 22 de junho de 2020**


A criança é feita de cem. Malaguzzi completaria cem anos, caso estivesse vivo em 2020, (1920-1994). Autor deste poema, Malaguzzi é considerado o pai da abordagem Reggio Emilia.

A filosofia pedagógica “incentiva o desenvolvimento intelectual das crianças por meio de um foco sistemático sobre a representação simbólica”, conforme o livro As Cem Linguagens da Criança – Volume 1: A Abordagem de Reggio Emilia na Educação da Primeira Infância

“As crianças pequenas são encorajadas a explorar seu ambiente e a expressar a si mesmas através de todas as suas linguagens naturais ou modos de expressão, incluindo palavras, movimento, desenhos, pinturas, montagens, escultura, teatro de sombras, colagens, dramatizações e música.”

A filosofia se desenvolveu na cidade homônima, localizada no Norte italiano. O pontapé inicial foi dado pela comunidade, desejosa de reconstruir uma Reggio Emilia devastada pela Segunda Guerra Mundial.

Era 1946, os conflitos recém haviam cessado e a prioridade das famílias era construir uma escola com os tijolos das casas bombardeadas. Quando soube disso, Malaguzzi sentiu-se “hesitante e assustado”.

“Minhas capacidades lógicas, de um professor de nível fundamental completamente esgotado, fizeram-me concluir que, se isso fosse verdade (e eu assim esperava!), mais do que anômalo e improvável, era [algo] de outro mundo”, contou ele numa entrevista – disponível no volume 1 de As Cem Linguagens das Crianças.

Quem era Loris Malaguzzi

Loris Malaguzzi nasceu em 23 de fevereiro de 1920, na comuna de Correggio, localizada a 20 quilômetros de Reggio Emilia – ou a 70 quilômetros de Bolonha, Itália. Em 1940, depois de se formar em Pedagogia na Universidade de Urbino, começou a dar aulas nas escolas primárias da região. Foi assim até o fim da guerra, quando soube do movimento de Reggio Emilia

Ao pedalar até o local onde as famílias construíam a escola, em 1946, encontrou duas mulheres martelando de forma obstinada o cimento velho dos tijolos retirados de casas bombardeadas. Malaguzzi pôde confirmar que, de fato, construía-se uma escola com as sobras da guerra – e sem interferência de engenheiros, governantes ou burocratas.

As ferramentas usadas pelas mulheres, fazendeiros e trabalhadores voluntários (os homens iam à obra somente à noite e aos sábados) foram adquiridas com a venda de seis cavalos, três caminhões e um tanque de guerra abandonado pelos alemães. A terra foi doada por um fazendeiro; a areia vinha do rio.

Sobre o que testemunhara, Loris Malaguzzi afirmaria anos mais tarde:

"Tudo parecia inacreditável: a ideia, a escola, o inventário, que consistia em um tanque, alguns caminhões e cavalos. Eu sentia que essa era uma lição formidável de humanidade e cultura, a qual geraria outros eventos extraordinários".

Malaguzzi nunca mais foi embora de Reggio Emilia. Como a “escola do tanque”, outras sete foram criadas e administradas pelos pais nas imediações da cidade, especialmente em bairros pobres. Nesse período, algumas acabaram sucumbido por falta de experiência dos “gestores”.

Então Loris Malaguzzi abandonou o emprego de professor, passou uma temporada em Roma e voltou a Reggio Emilia – tanto para retomar a docência quanto para administrar um centro de saúde mental para crianças com dificuldades.

Vínculo com Reggio Emilia

O vínculo com Reggio Emilia se fortaleceu ainda mais quando Malaguzzi percebeu que
muitas crianças tinham dificuldade com a língua (falavam dialetos locais, em vez de italiano) e que os professores, ensinados em colégios católicos, tinham ideias amplas e conservadoras.

Malaguzzi e os demais professores convocaram uma reunião com os pais para pedir sugestões. Na ocasião, concluiu-se que “tudo sobre as crianças e para as crianças somente pode ser aprendido com as crianças”. Vem daí a ideia de que Reggio Emilia é uma abordagem baseada na coletividade e na ideia de que as crianças são capazes de conduzir a própria aprendizagem.

A abordagem Reggio Emilia combina princípios como protagonismo infantil, pedagogia da escuta, pensamento crítico, arte e documentação. A primeira escola infantil com base nesse conceito foi criada em 1963.

De lá para cá, centenas de creches e escolas infantis da Itália e de outros países adaptaram o modelo. Atualmente, mais de 5 mil educadores visitam Reggio Emilia todos os anos para conhecerem detalhes da abordagem que virou referência mundial.

O legado de Loris Malaguzzi

Não seria exagero dizer que Loris Malaguzzi foi um dos maiores educadores do século 20. Mas, infelizmente, seu trabalho ainda não é tão valorizado fora da Itália quanto deveria. Ao menos essa é a visão de Peter Moss, pesquisador infantil e professor da University College London.

Em uma entrevista à revista Nova Escola, Moss compartilhou que Malaguzzi “falava com professores ou assistentes [da mesma forma]. Para ele, era muito claro que não deve existir hierarquia. Todos precisam ser parte da docência e realizar um trabalho cooperativo”.

“As pessoas que conheceram Malaguzzi lembram vividamente dele, de como falava sobre o que estava lendo, as novas teorias e suas complexidades”, relembra Moss. “Depois perguntava o que fazer com isso e que projetos poderiam ser feitos. Ele retoma a ideia de experimentação.”

Loris Malaguzzi morreu em 1994, aos 74 anos, vítima de infarto. Seu legado, porém, permanece.

Fonte: ** https://desafiosdaeducacao.grupoa.com.br/malaguzzi-100-anos/ 

OBS - Grifos feitos por mim.