terça-feira, 29 de março de 2022

A Abelha de Salomão (Conto de tradição Judaica)

 


Certa vez, a rainha de Sabá recebeu a importante visita do rei Salomão, o homem mais sábio da época.

A rainha lhe propôs um enigma: Conduziu-o até um dos aposentos do seu palácio, que os artesãos haviam enchido de flores artificiais. Era como se, num prado maravilhoso, flores das mais variadas espécies e dos mais diferentes aromas oscilassem suavemente ao sabor de uma brisa.

A rainha disse ao rei Salomão: “Uma dessas flores é natural. Pode me dizer qual é?” Salomão olhou atentamente, lançou mão de todos os recursos de sua sensibilidade, mas não conseguiu apontar a flor natural.

Então pensativo, lhe veio uma ideia e disse à rainha: “Posso abrir uma janela?” Com a permissão, ele abriu e eis que uma abelha entrou e pousou na única flor natural que havia ali à procura do néctar para o seu mel.

E assim o sábio Salomão identificou sem grande espalhafato qual era a flor natural....

 

Reflexão - para ser sábio não é preciso fazer grandes espetáculos, nem fazer coisas fantásticas ou fora do comum... É preciso apenas ter um coração puro e simples.

“Ser sábio é ter um coração puro e simples.”

sexta-feira, 11 de março de 2022

Casa da mãe depois que os filhos se vão… ( Miryan Lucy Rezende)

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um oratório. 

Amanhece e anoitece, prece. Já não temos acesso àquelas coisinhas básicas do dia a dia, as recomendações e perguntas que tanto a eles desagradavam e enfureciam: com quem vai, onde é, a que horas começa, a que horas termina, a que horas você chega, vem cá menina, pega a blusa de frio, cadê os documentos, filho.

Impossibilitados os avisos e recomendações, só nos resta a oração, daí tropeçamos todos os dias em nossos santos e santas de preferência, e nossa devoção levanta as mãos já no café da manhã e se deita conosco.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é lugar de silêncio, falta nela a conversa, a risada, a implicância, a displicência, a desorganização. Falta panela suja, copos nos quartos, luzes acesas sem necessidade… 

Aliás, casa de mãe, depois que os filhos se vão, vive acesa. É um iluminado protesto a tanta ausência.

Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre o mesmo cheiro. Falta-lhe o perfume que eles passam e deixam antes da balada, falta cheiro de shampoo derramado no banheiro, falta a embriaguez de alho fritando para refogar arroz, falta aroma da cebola que a gente pica escondido porque um deles não gosta (mas como fazer aquele prato sem colocá-la?), falta a cara boa raspando o prato, o “isso tá bão, mãe”. O melhor agradecimento é um prato vazio, quando os filhos ainda estão. Agora, falta cozinha cheia de desejos atendidos.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um recorte no tempo, é um rasgo na alma. É quarto demais, e gente de menos.

É retrato de um tempo em que a gente vivia distraída da alegria abundante deles. Um tempo de maturar frutos, para dá-los a colher ao mundo. Até que esse dia chega, e lá se vai seu fruto ganhar estrada, descobrir seus rumos, navegar por conta própria com as mãos no leme que você , um dia, lhe mostrou como manejar.

Aí fica a casa e, nela, as coisas que eles não levam de jeito nenhum para a nova vida, mas também não as dispensam: o caminhão da infância, a boneca na porta do quarto, os livros, discos, papéis e desenhos e fotografias – todas te olhando em estranha provocação. 

Casa de mãe depois que os filhos se vão não é mais casa de mãe. É a casa da mãe. Para onde eles voltam num feriado, em um final de semana, num pedaço de férias.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um grande portão esperando ser aberto. É corredor solitário aguardando que eles o atravessem rumo aos quartos. É área de serviço sem serviço.

Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre alguém rezando, um cachorrinho esperando, e muitos dias, todos enfileirados, obedientes e esperançosos da certeza de qualquer dia eles chegam e você vai agradecer por todas as suas preces terem sido atendidas. 

Por que, vamos combinar, não é que você fez direitinho seu trabalho, e estava certo quem disse que quem sai aos seus não degenera e aqueles frutos não caíram longe do pé?

E saudade, afinal, não é mesmo uma casa que se chama mãe?


FONTE - Pensar Contemporâneo - postado em 3 de janeiro de 2019. Miryan Lucy de Rezende – Uberlândia MG. 


Sobre a Autora -  Miryan Lucy Rezende é uma educadora infantil e escritora brasileira que compartilha seus textos sensíveis nas redes sociais.