quinta-feira, 28 de abril de 2022

Escuta reativa (Parte1)

 


ESCUTA REATIVA: pessoas que ouvem para refutar, não para entender

Você já conversou com uma pessoa e, apesar de ter recorrido a um grande arsenal de argumentos, você teve a sensação de falar com uma parede? Mesmo que você tenha lutado para explicar suas razões e entender as suas, para chegar a um acordo, você provavelmente teve a sensação de que elas não o entendem – ou não querem entendê-lo.

Não é que os seus argumentos tenham sido transformados em rabiscos, é provável que o diálogo não progrida porque o canal de comunicação foi quebrado – ou nunca estabelecido – porque o seu interlocutor não pretendia realmente compreender, mas apenas refutar.

Escuta reativa: Primeiro eu, depois eu e depois eu de novo

Epicteto disse que “assim como há uma arte de boa fala, há uma arte de ouvir bem”. E todos nós podemos ouvir, mas poucos são capazes de escutar.

A escuta ativa é uma habilidade relativamente rara, porque envolve não apenas ouvir o que a outra pessoa está dizendo, mas prestar atenção aos sentimentos e emoções subjacentes. Para isso, é essencial sair de nossa posição egocêntrica e assumir uma postura empática, sendo capaz de nos colocar na pele do outro para compreender plenamente sua mensagem.

A escuta ativa também implica um interesse autêntico na pessoa e em sua mensagem. Isso não significa que concordamos com suas ideias, mas estamos interessados em entendê-las. É por isso que é sinônimo de respeito e vontade de dialogar.

Infelizmente, em uma sociedade cada vez mais narcisista, muitas pessoas não conseguem desenvolver uma escuta ativa. Em vez de ouvir seu interlocutor para entender suas ideias e sentimentos, eles apenas ouvem seus argumentos para refutá-los, como se fosse um duelo.

A escuta reativa, como eu chamo este tipo de comunicação, implica entrincheirar-se por trás dos próprios pontos de vista, e acaba se tornando um obstáculo ao diálogo. Implica reagir às ideias do interlocutor de um ponto de vista egocêntrico, para impor seus próprios critérios, sem a intenção de chegar a um acordo vantajoso para ambos.

A pessoa que coloca em prática uma escuta reativa limita-se a reagir a partir de suas emoções, crenças e ideias, sem levar em conta as do interlocutor. Desta forma, não é possível criar o espaço compartilhado necessário para que ocorra a compreensão, de modo que acaba instalando um diálogo surdo.

Como saber se uma pessoa iniciou uma escuta reativa?

1. A pessoa não leva em conta o que seu interlocutor diz. Se ouvir os seus argumentos, é apenas para refutá-los.

2. Ele não presta o devido interesse nas palavras de seu interlocutor, demonstrando uma quase total falta de empatia.

3. Só está interessado em transmitir a sua mensagem – a qualquer custo – fechando qualquer argumento contrário às suas ideias.

O que mascara a escuta reativa? 

Muitas pessoas praticam a escuta reativa porque querem afirmar seus argumentos – não importa como ou a que preço. Basicamente, elas não estão interessadas nas ideias ou motivos que você pode-lhes dar, porque seu objetivo principal é impor suas razões, de modo que sua visão prevaleça.

Essas pessoas não estão procurando por um diálogo, mas sim começam uma batalha em que querem vencer. Elas não assumem o diálogo como uma oportunidade para crescer, mas como um duelo. Portanto, é provável que percebam seus argumentos como uma ameaça, simplesmente porque elas não correspondem aos delas, então sentem que precisam se defender.

Isto implica que eles ignorarão qualquer vislumbre da verdade que possa encerrar sua mensagem e que possa ajudá-los a mudar de ideia, ampliar sua perspectiva ou enriquecer seu ponto de vista, porque estão apenas à procura de possíveis contradições, imprecisões ou hesitações para contra-atacar.

É claro que todos podemos praticar a escuta reativa de tempos em tempos, especialmente quando sentimos que estamos atacando nosso ego e nos tornamos defensivos, mas assumi-lo como um estilo comunicativo implica pouca autoconfiança.

Uma pessoa madura, assertiva e autoconfiante não sente a necessidade de impor seus argumentos, mas está aberta ao diálogo e receptiva a diferentes pontos de vista que podem enriquecer sua visão de mundo ou ajudá-lo a entender melhor quem está à sua frente... Portanto, no fundo, a escuta reativa é a expressão de um ego frágil ou de profunda insegurança pessoal.

Martin Luther King disse que “sua verdade aumentará quando você souber ouvir a verdade dos outros”. A pessoa que fecha as portas para as ideias dos outros acaba correndo o risco de ficar presa a uma visão cada vez mais limitada do mundo, da vida e de si mesma.

Fonte -  Pensar Contemporâneo  postado em 

https://www.pensarcontemporaneo.com/escuta-reativa-pessoas-que-ouvem-para-refutar-nao-para-entender/?fbclid=IwAR0jKgqDf07rWv3Uz_2OmCZ4rED8sw5-pYkwo7-QWnQjU0LEfaKuygK3IcY

sábado, 23 de abril de 2022

“O que a memória ama, fica eterno” (*frase de Adélia Prado)

 

Quando jovem, não entendia o choro dos adultos ao assistir a um filme, ouvir uma música ou ler um livro. O que eu não sabia é que não choravam por coisas visíveis. Choravam pela eternidade que vivia dentro deles e que eu era incapaz de compreender. O tempo passou e hoje me emociono diante das mesmas coisas, tocadas por pequenos milagres do cotidiano.

É que a memória é contrária ao tempo. Enquanto o tempo leva a vida embora como vento, a memória traz de volta o que realmente importa, eternizando cada momento. Jovens têm o tempo a seu favor e a memória ainda é muito recente. Para eles, um filme é só um filme; uma melodia, só uma melodia. Ignoram o quanto a vida é impregnada de eternidade.

Com o tempo envelhecemos, nossos filhos crescem, outros partem. Porém, para a memória ainda somos jovens, atletas e amantes insaciáveis. Nossos filhos são crianças, nossos amigos estão pertos, nossos entes queridos ainda vivem.

O que a memória ama, fica eterno. Quanto mais vivemos, mais eternidades criamos e nos damos conta do que guardamos em nossos baús secretos. A memória é dada a segredos recheados daquilo que amamos, que deixou saudades e permaneceu além do tempo.

A capacidade de se emocionar vem daí, quando nossas memórias afloram de alguma maneira. Um dia você liga o rádio e neste toca uma música qualquer, ninguém nota, mas aquela música fez parte de você, foi o fundo musical de um amor, ou de uma fossa e mesmo que tenham se passado anos, alguma parte de você volta no tempo lembrando de uma pessoa, de um momento, de uma época…


Amigos verdadeiros têm a capacidade de se eternizar. É comum ver amigos da juventude se reencontrando depois de anos, já adultos ou até idosos, portam-se como adolescentes. Encontros de amigos são especiais por isso, resgatam quem fomos, jovens cheios de alegria, capazes de atitudes infantis, como éramos há 50 anos ou mais.

Descobrimos que o tempo não passa para a memória. Ela eterniza amigos, brincadeiras… Mesmo que por fora restem apenas cabelos brancos e rugas.

A memória não permite que sejamos adultos para nossos pais. Eles não percebem que crescemos, seremos sempre “as crianças”, não importa quantos anos já se passaram. Para eles a lembrança da casa cheia, das brigas entre irmãos, das estórias contadas… Ainda são muito recentes, aquilo se eternizou.

Por isso é tão difícil despedir-se de alguém especial que fez parte de nossas vidas. Dizem que o tempo cura tudo, mas não é bem assim. Ele só acalma os sentidos, apara as arestas e coloca um curativo na dor.

Aquilo que amamos sempre volta das profundezas a assombrar de vez em quando. Somos a soma de nossos afetos, e aquilo que amamos pode ser facilmente reativado pelo enredo de um filme, uma música antiga ou um lugar especial.

E mesmo que o tempo nos leve daqui seremos eternamente lembrados por aqueles que um dia nós amamos.

FONTE - http://www.ngcanela.com/o-que-a-memoria-ama-fica-eterno/ Post (319) – Janeiro de 2019

Sobre a Autora  - Fabíola Simões de Brito Lopes é mineira de Itajubá/Minas Gerais. É mãe,
dentista, influenciadora digital, youtuber e escritora. Tem quatro livros publicados. 

OBS da autora Fabíola Simões

 1 - Este texto foi ligeiramente modificado, resumido do  original e está licenciada por Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Todos os direitos reservados a Fabíola Simões de Brito Lopes https://www.asomadetodosafetos.com/2012/07/o-que-a-memoria-ama-fica-eterno.html).

 2 - A frase do título é de Adélia Prado.