quarta-feira, 19 de julho de 2017

Autoconhecimento: Apenas Um Ponto de Vista [Délia Peixoto]**


Muito se tem ouvido e falado sobre Autoconhecimento. Eu mesma, em um artigo escrito há duas semanas, citei a importância ‘dele’ para tentar assumir e equilibrar as emoções que comumente surgem no momento do enfrentamento de uma situação de desemprego, por exemplo. Afinal, como que esta busca e o próprio ato em si se efetivam no mundo real? Milhares de perguntas pipocam quando começo a pensar sobre isso. A ideia deste artigo é compartilhar algumas delas, sob um ponto de vista, que eu até diria que é meu, mas sei que não é, porque é fruto de muitos autores e personagens da minha história até aqui. Para ficar claro, não tenho nenhuma pretensão de apresentar uma resposta definitiva, combinado?!


Vamos lá:

O que é Autoconhecimento?

Entendo autoconhecimento como a capacidade que deveríamos ter de nos identificarmos como uma pessoa de carne e osso que vivencia todos os dias várias emoções e que se mostra capaz, quando se dispõe a isso, de entender e reconhecer a “lógica” por trás da forma como reage a cada uma das situações que vivencia. Um bom nível de autoconhecimento, implica na prontidão por se perceber capaz de realizar algo, tanto bom como ruim, e agir para se responsabilizar por cada passo que escolhe seguir na vida.

Como o Autoconhecimento se apresenta no mundo do trabalho?

De várias maneiras, mas as que me surgem de ‘bate-pronto’ quando preciso responder a esta pergunta são:

1. Um bom nível de autoconhecimento costuma ser apresentado pelos melhores profissionais. Aqueles que são capazes de reconhecer seus próprios erros, que sabem seus pontos fortes, e são capazes de transformá-los em ação genuína.

2. Em líderes melhores, que ao saberem do que são capazes, utilizam essas fortalezas para igualmente desenvolverem seus times, conhecem suas fragilidades e desapegam muito facilmente de suas conquistas porque não precisam da bajulação para se sentirem bem e seguros.

3. Em melhores climas organizacionais já que pessoas que individualmente também são boas conhecedoras de si mesmas, são mais propensas à gestão apropriada de conflitos (percebam, eu não falei de ausência de conflitos, porque isso não é necessariamente positivo), à apresentarem Empatia genuína (capacidade de colocar-se no lugar do outro, sob a ótica do outro) e a menos ‘mimimi’.

Como atuar para injetar Autoconhecimento em nosso dia-a-dia?

Pode parecer muito básico, mas uma revisão do nosso dia pode nos ajudar a incrementar nosso nível de autoconhecimento. Com esta loucura de viver correndo, sem pensar no que faz, nos tornamos completamente automáticos e a automatização, não gera conhecimento, gera repetição. Pense nas máquinas: "ok" que alguém teve uma ideia para que ela fosse criada, mas se não houver um esforço para que se pense sobre como o equipamento funciona nada de diferente será criado. A proposta aqui é revisar o nosso dia, do início ao fim, focando nas reações que apresentamos, nos feedbacks que recebemos, nas emoções que vivenciamos. Uma segunda etapa, implica em responder às perguntas de ordem pessoal: qual é o porquê da minha reação? O que isso fala a respeito da maneira como eu penso? O quanto isso tem a ver com quem eu sou (mesmo que não tome consciência disso)? Dia a dia, com a prática, a tendência é que tenhamos boas dicas sobre algumas noções de quem somos (descobrimos versões nossas dignas de estampar num jornal em páginas 'positivas' e outras que se pudéssemos fingir que não existem, não seria mal). Tornar essa retrospectiva concreta, escrevendo-a, pode ser ainda mais valioso, para que fique “oficial” a nossa constatação.

Outra prática fundamental para injetar autoconhecimento no dia-a-dia, afinal não somos Freud que enveredou pelos caminhos da autoanálise, é buscarmos por feedback. Sim, pedir feedback constante e profundo sobre como nos comportamos, qual foi o efeito da nossa atuação para as outras pessoas que estavam por perto e o que devemos repetir e o que devemos repensar. Nesta prática, é importante que estejamos dispostos a ouvir o que outras pessoas têm a dizer sem contrapor, mesmo que não faça sentido para nós num primeiro momento.

Diminuímos o nível de autoconhecimento porque ouvimos pouco a nós mesmos e aos outros. Na primeira dica estaremos buscando nossa “voz interior”. Na segunda, a “voz do mundo”.

É possível que uma pessoa com bom nível de Autoconhecimento falhe?

Com certeza! Não somos a tal máquina e mesmo conscientes de quem somos, faremos e diremos muita bobagem com muita frequência. A diferença é se usaremos o autoconhecimento para justificar nossas atitudes (tal síndrome de Gabriela: ‘ eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim, Gabrieelaa, sempre Gabrieela’...), ou se o usaremos para nos esforçarmos para agir de uma melhor forma na próxima oportunidade. O Processo de Autoconhecimento não se esgota, nem se basta.

Acho que cheguei num bom nível, o que posso fazer com meu Autoconhecimento?

Atue para responsabilizar-se por sua vida e para atuar sobre as questões que você ‘controla’. Aprenda todos os dias, aprimore suas relações e gerencie a tentação de julgar o outro, julgar o mundo ao seu redor. Aliás se o botão do julgamento é acionado, é muito provável que esse ‘click’ interno esteja lhe levando para mais uma reflexão importante que você precisará fazer. Faço aqui uma diferença entre julgar e emitir uma opinião, considerando muito do que tenho aprendido e tentado praticar: Julgamos quando atribuímos um conceito de certo ou errado ao que acontece, ao que outra pessoa faz. Emitimos opinião quando compartilhamos o fato ocorrido e indicamos explicitamente qual é a nossa escolha pessoal sobre o tema. É como se disséssemos: Eu não faria ‘assim’ porque acredito ‘nisso’ da ‘seguinte’ maneira. Dessa forma, nós nos posicionamos, mas não atribuímos um rótulo ao outro. Agora, cá entre nós: Como isso é difícil!...

Enfim, por mais complicado que seja, temos a oportunidade de tentar e tentar diariamente. A garantia que temos é que isso nos tornará mais bem-sucedidos na integralidade de nossa vivência como seres humanos, com maior capacidade para reconhecermos os nossos limites e para desenvolvermos relações mais francas com o mundo ao nosso redor.

Até a próxima.


Sobre a Autora -  Gerente de Recursos Humanos Sr. Consultora Associada na Fazeres & Saberes (Gestão de Talentos pela Valorização de Pessoas)

** Texto original publicado em 1 de junho de 2017, In -https://www.linkedin.com/pulse/autoconhecimento-apenas-um-ponto-de-vista-delia-peixoto?trk=v-feed&lipi=urn%3Ali%3Apage%3Ad_flagship3_feed%3BulplcHYcyNG4%2BuFn1VXwRw%3D%3D

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