"Como criar o hábito do diálogo com os filhos?"
Içami Tiba
"Uma das grandes maravilhas de ser humano é o seu poder de dialogar, trocar ideias e experiências, compartilhar emoções, negociar, discutir e ... amar."
Um nenê já gesticula, solta sons, acena, bate palmas, mexe a cabeça, sorri, fica sério, chora, resmunga antes mesmo de falar. É um fato universal, não importa a cultura. Para mim, o pensamento precede as palavras.
Se uma criança nascesse e não tivesse nenhum contato com
humanos, como o herói de aventuras Tarzan, o homem macaco criado por Burroughs,
ou Mowgli, idealizado por Rudyard Kipling, ela deixaria de desenvolver a área
cerebral da fala e seus respectivos correlatos cerebrais, alguns dos quais
impossíveis de serem recuperados totalmente posteriormente. É o que acontece
com os sotaques das pessoas que aprendem outras línguas após a puberdade.
Para falar, um nenê tem que pensar. Quanto mais cedo pensar,
mais vai querer falar, e quanto mais falar, mais vai ter que pensar. É por isso
que um dos meios de aclarar, organizar e amadurecer as ideias e desenvolver os
pensamentos é simplesmente falar o que estiver pensando.
Não se fala uma ideia sem sentido, mas pensar sem sentido é muito comum.
Não se fala uma ideia sem sentido, mas pensar sem sentido é muito comum.
Um dos grandes motivos do esfriamento dos relacionamentos
entre pais e filhos é a falta de comunicação verbal entre eles, mesmo que
estejam emitindo mensagens extraverbais o tempo todo.
Quando um pai chega em casa, irritado, cansado, preferindo descansar em frente da televisão, mesmo calado, ele está passando a mensagem de que não quer ninguém por perto.
Quando uma mãe chega falando em casa, reclamando da bagunça, direto a preparar algo para todos comerem, cobrando de tudo e de todos, ela já passou a mensagem da sua posição e ninguém gosta de ficar por perto.
Assim, cada vez mais todos acabam ficando mais distantes uns dos outros, mesmo que convivam numa mesma casa. O que deveria ser um happy hour vira uma tragic hour.
Algumas dicas emergenciais para que o companheirismo volte ao lar:
ü Todos, ao chegarem em suas casas, têm meia hora para fazer o que quiserem, desde que não incomodem outros presentes;
ü É da
responsabilidade de quem ficou em casa deixá-la em ordem: exigências crescem de
acordo com a idade. Não é tarefa de mãe arrumar bagunças de ninguém;
ü O jantar
deveria ser o happy hour: Não está com fome? Peça que todos se sentem junto,
mesmo assim, pois o que importa é a companhia, a conversa, o alimento da alma;
ü Quem não
jantar na hora, vai ficar sem comer até a manhã do dia seguinte. Ninguém morre
de fome em casa que tem comida, mas o comer a qualquer hora estraga qualquer
qualidade de vida;
ü Jantar
não é hora de cobranças, mas sim de contar "causos" interessantes,
piadas, aventuras, dar feedbacks do que está fazendo, perguntar como andam os
projetos de cada um, compartilhar lembranças e sonhos;
ü Quem não
dedica um tempo para conversar, jogar papo fora, orientar, aconselhar, fazer
cobranças e espera que tudo aconteça, nunca terá este tempo. Ninguém fabrica
tempo, cada um tem o seu. Já não há mais tanto tempo para realizar todos os
desejos;
ü Após o jantar ninguém sai, nem assiste TV, nem usa o computador, nem dorme. É hora de fazer as obrigações. Não pode dormir enquanto não terminar. Nada de "amanhã cedo eu faço". Sacrifícios destes mais fortaleceram que mataram filhos. Se forem dormir, os pais têm que acordá-los para terminar;
ü Pais
bonzinhos são "bobinhos", pois estão financiando a falta de formação
e de educação (formação do futuro cidadão ético). Pais poupadores, que não
impõem o cumprimento das obrigações dos filhos nem cobram bons resultados podem
formar "príncipes esperadores" de heranças e de prêmios sem comprar
bilhetes no lugar de terem filhos empreendedores."
Sobre o Autor - Içami Tiba, [Tapiraí, 15 de março de 1941 -
São Paulo, 2 de agosto de 2015] - foi um médico psiquiatra, psicodramatista,
colunista, escritor de livros sobre Educação, familiar e escolar, e palestrante
brasileiro. Professor em diversos cursos no Brasil e no exterior, criou a
Teoria da Integração Relacional, que facilita o entendimento e a aplicação da
psicologia por pais e educadores. Como palestrante Tiba também já fez mais de
3.200 participações de eventos do gênero, tanto no Brasil como em outros
países.
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