Às vezes, parece uma bobagem falar em amor aos estudos. E mesmo que muitos
procurem fazer isso parecer ridículo, em algum momento, se contradizem. Primeiro
de tudo, não é amor a uma atividade em si mesma, é uma figura de linguagem falar
“amor aos estudos”. Pois a atividade de estudar não é o fim dela mesma, nem faz
sentido ser assim.
Nem, se falarmos em “arte pela arte”, temos um sentido
literal, porquanto esta atividade, pautada numa visão moderna, compreende o uso
de técnicas e inspirações dirigidas a algo para fora de si. E é sempre assim.
Empreendemos nossa criatividade e inteligência em busca de tesouros escondidos
num espaço separado do mundo material. Do mesmo modo, dizemos ‘amor’ também
porque está acima da busca dos prazeres. Sabemos, porém, que nem todo trabalho
desse tipo se inicia com uma forte decisão.
Este impulso e, depois, amor pode
ser resultado da nossa própria contingência humana. No início da vida, admiramos
os mais velhos, sua altura, força e as capacidades que possuem; e isso tudo já
têm alguma beleza e superioridade, porque somos pequenos diante de certas
situações: nossos movimentos são brutos, sem suavidade, imprecisos, nossa
fraqueza não nos permite agarrar firmemente os objetos e nossas observações não
compreendem olhares e gestos que à volta são trocados. Isso explica por que,
quanto mais nos tornamos participantes da vida dos adultos, mais sentimo-nos
orgulhosos. E se meditarmos mais ainda, perceberemos que estamos sempre nesta
condição com relação aos sábios; o que, no entanto, é mais difícil de notar ou,
para alguns, de admitir.
Os sábios, portanto, ou aqueles que estão à frente,
possuem algo que não temos, um domínio acima das nossas capacidades. Eles nos
mostram belezas e verdades que não possuímos em nossos hábitos e conhecimentos.
Por conseguinte, estudamos porque também queremos participar dessas belezas e
conhecer estas verdades, de um mundo ainda bastante misterioso, mas belo, sem
dúvida.
Assim vemos, na arte literária, Ovídio, que trocou o futuro para o qual
estava inclinado pela arte poética, unindo-se aos célebres escritores de sua
época, porque encontrou na música as belezas das quais carecia; Plauto, depois
de tentar a vida de mercador, acabou por conquistar os corações das plateias,
tornando-se autor de muitas peças; e, muito tempo antes, os primeiros aedos iam
de encontro às coisas divinas, dos quais muitos, de família nobre, trocavam a
promessa de riqueza material por um tipo de sacerdócio.
O amor aos estudos
sempre tem algo desse caráter: um esforço por aquilo que não se troca por
prazeres instantâneos. Por fim, pensemos nessa atividade como um jardim que
construímos para uso próprio, o qual ainda continuaremos cuidando, mesmo que
ninguém o saiba.
FONTE - https://www.scholaclassica.com/2021/05/13/o-amor-aos-estudos/
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