quinta-feira, 16 de março de 2023

Sociedade Humana - Organismo Social - Cidadãos

 

"Criança: Da Anomia à Autonomia"

 "Toda sociedade humana deseja continuar a existir como organismo social. Para isso, ela necessita que os indivíduos que a compõem, sejam cidadãos responsáveis e equilibrados o suficiente para que ocorra uma convivência harmônica entre todos, permitindo que cada pessoa e grupos atinjam seus objetivos. A sociedade utiliza a educação para não só transmitir conhecimentos, mas em especial, para continuar a existir, capacitando as novas gerações, através da humanização e socialização, para viverem em sociedade, formando atitudes e comportamentos saudáveis, com atitude crítica e responsável no agir individual e grupal.

Os objetivos que a sociedade deseja atingir, com a humanização e a socialização das pessoas, são atingidos quando, dentre outros modos maduros de agir, as pessoas agem com “autonomia”. Sabe-se que uma pessoa está agindo com “autonomia” quando ela já tem consciência das regras e normas da sociedade onde vive, seguindo-as, e suas ações são feitas por iniciativa própria sem a influência e a necessidade de alguém ficar mandando fazer, tendo a liberdade de escolha entre as ações, seja para fazer alguma coisa, para pensar ou para utilizar seus juízos morais. A sociedade considera que uma pessoa está nessa etapa almejada, quando ela desenvolveu o autocontrole, a autocrítica (não absorve passivamente as informações, mas as transforma), tem consciência do certo e do errado, tomando as decisões sobre quais comportamentos deve ter. Quando uma pessoa age com “autonomia”, ela está demonstrando que internalizou os valores morais de seu meio ambiente, é fiel a eles, tem atitudes baseadas neles e não por ter receio de sanções externas. E quando age com “autonomia” está utilizando a sua razão, conforme dizia o filósofo alemão prussiano Immanuel Kant ou está utilizando seus próprios juízos morais e de valor, construídos através do relacionamento com as outras pessoas, conforme era o pensar do pedagogo suíço Jean Piaget.

A sociedade pretende, com a educação das novas gerações, que as crianças e os jovens cheguem a essa etapa evolutiva da “autonomia”, saindo das outras duas etapas que a precedem. A etapa da “anomia” é, geralmente, a etapa das crianças pequenas: com seu egocentrismo natural da infância, elas querem fazer somente o que desejam, sem considerar os outros e sem seguir regras e normas, pois ainda não aprenderam e não assimilaram essas regras e normas do meio social. As crianças vão saindo, gradativamente, dessa etapa, mudando para uma nova etapa evolutiva, a da “heteronomia”, através do convívio com as outras pessoas e estimuladas pela educação e influências culturais que recebem. Nessa nova etapa, as crianças já aprenderam e conhecem as regras e normas que devem seguir, mas ainda estão dependentes dos adultos, e aguardam que alguém decida por elas, ainda ficam esperando que os outros digam o que elas devem fazer. Fazem só o que mandam fazer ou fazem se sofrerem pressão social do grupo onde vivem. Neste sentido, muitas pessoas agem como se estivessem nessa fase da “heteronomia”, sem utilizarem as próprias ideias, mas preferindo utilizar passivamente as informações que recebem dos outros.

O processo da educação, estruturado pela sociedade para as novas gerações, faz com que as crianças e os jovens sejam estimulados a atingirem a etapa almejada, e possível, para todo ser humano: a da “autonomia”.  Apesar de ser esse o objetivo de toda educação, na sociedade atual são encontradas, infelizmente, muitas pessoas que parecem ter parado na etapa da “anomia” pois não respeitam as regras, normas e as leis da sociedade, não respeitam as outras pessoas, não possuem valores morais e éticos, agem sem autocontrole, apresentando comportamentos violentos, agressivos, desonestos, envolvendo-se em crimes, corrupção e uma série de outros comportamentos prejudiciais à sociedade onde vivem. E outros parecem estar na fase da “heteronomia”, só fazendo o que mandam fazer, dependentes dos outros. O Brasil, como país, parece estar nesta fase, dependente de organismos internacionais…"

FONTE - Criança: Da Anomia à Autonomia (pedagogiaaopedaletra.com)

https://pedagogiaaopedaletra.com/anomia-autonomia/ (Atualizado em 19/06/2021)

segunda-feira, 6 de março de 2023

Valores e aprendizados não tiram férias (Por Içami Tiba)

 


Os filhos não podem fazer nas férias o que não poderiam fazer em um final de semana, em uma viagem, em qualquer lugar, com qualquer pessoa, principalmente no que se referem aos valores, como respeitar o próximo e fazer-se respeitar por ele, cumprir as regras sociais e familiares, cuidar e preservar a saúde e a segurança, praticar a cidadania familiar etc.


O que tira férias são as frequências às aulas, com os seus conteúdos e deveres psicopedagógicos, juntamente com o relacionamento professor-aluno, e não o viver com qualidade e o constante aprendizado da vida para sermos pessoas de "alta performance".

Mesmo chocando uns, há outros pais que querem tirar férias dos filhos pequenos porque precisam descansar, descontrair, fazer uma viagem, dar um tempo na rotina profissional e até mesmo dos filhos que não lhes dão sossego. Adultos quando chegam aos lares querem paz, e, crianças, querem pais. Todavia, não seria de se estranhar se estes filhos quisessem "se ver livres" destes pais cansados e também tão cansativos.

Adultos há que se permitem fazer em viagens, na praia, no clube ou quando estão de passagem em algum lugar o que não fariam em casa: jogar papel na sala, atirar pela janela latas e garrafas de bebidas (cascas de frutas, sacos de papel) no seu próprio jardim, deixar banheiro sujo, cuspir no tapete, fazer as necessidades nos cantos dos quartos etc. Estes adultos não estão tirando férias da sua casa, mas dando férias à educação e à civilidade. Importantes valores devem acompanhar as pessoas como se fossem a própria alma estejam onde e com quem estiverem.
Estes pais estão financiando a falta de educação, o desrespeito ao próximo, a depredação e o uso pirata do seu mundo e a negligência com os deveres sociais aos seus filhos.

Portanto, é na convivência com os filhos que os pais mostram como se comportar civilizadamente em qualquer lugar. Reforço aqui a importância da prática doméstica da educação pela cidadania familiar: ninguém pode fazer em casa o que não poderá fazer fora de casa e todos devem praticar em casa o que deverão fazer na sociedade.

A cidadania familiar nunca tira férias. Mesmo que um filho esteja de férias, longe dos pais, ele não deve fazer o que aprendeu em casa que não pode fazer: experimentar drogas é um exemplo.


Sobre o Autor - Sobre o Autor - Içami Tiba, [Tapiraí, 15 de março de 1941 -

São Paulo, 2 de agosto de 2015] - foi um médico psiquiatra, psicodramatista, colunista, escritor de livros sobre Educação, familiar e escolar, e palestrante brasileiro. Professor em diversos cursos no Brasil e no exterior, criou a Teoria da Integração Relacional, que facilita o entendimento e a aplicação da psicologia por pais e educadores. Como palestrante Tiba também já fez mais de 3.200 participações de eventos do gênero, tanto no Brasil como em outros países.

 

Fonte - http://www.tiba.com.br/artigo.php?id=054