domingo, 29 de janeiro de 2017

Infância: memória poética!

A minha infância foi permeada de poesia[1]... Nas brincadeiras, poemas, músicas, parlendas, adivinhações, trava-língua, leituras de imagens[2] e nas histórias lidas pelo meu pai e em outras atividades. Participávamos destes momentos, eu, meus irmãos, primos e outras crianças, nossos vizinhos.

Éramos protagonistas de muitas aventuras... Meu pai tinha um gravador daqueles de fita grande e costumava registrar nossas falas e por que não dizer, “nossas graças”.

Já há algum tempo, venho buscando lembrar um poema, declamado por um amado tio e gravado por meu pai. Busquei em vão nas lembranças dos que participaram, senão da gravação pelo menos de tê-lo ouvido. Muitos lembravam daqueles momentos com alegria, mas não do poema a que me referia. A dificuldade era maior, pois eu me lembrava apenas de fragmentos e de um detalhe que ficou registrado na gravação.

Lembro-me da minha emoção no momento da gravação e dos que se seguiram ao ouvi-la por várias vezes. Encantava-me, pois no momento da gravação um relógio de parede, de madeira escura e a corda, tocou batendo, onze vezes. Para mim, aquelas badaladas se juntaram a musicalidade das palavras recitadas por meu tio, trazendo mais poesia àquele poema (se assim fosse possível).
 O fato de lembrar apenas fragmentos não me permitia localizar este poema, mas por ocasião de um sarau, minhas lembranças se ampliaram e consegui encontrá-lo em uma rápida pesquisa digital.

Fiquei muito feliz com este “achado” poético e aqui compartilho!

 O PALHAÇO
                                      Padre Antônio Tomás*

Ontem viu-se-lhe em casa a esposa morta
e a filhinha mais nova tão doente!
Hoje o empresário vai bater-lhe à porta,
que a plateia o reclama impaciente.

Ao palco em breve surge... pouco importa
o seu pesar àquela estranha gente.
E ao som das ovações que os ares corta,
trejeita e canta e ri nervosamente.

Aos aplausos da turba ele trabalha
para esconder no manto em que se embuça
a cruciante angústia que o retalha.

No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça
e enquanto o lábio trêmulo gargalha,
dentro do peito o coração soluça.

Sobre Padre Antônio Tomás – Considerado o primeiro ‘Príncipe dos poetas cearenses – consagração que recebeu ainda em vida – nasceu em Acaraú/Ceará, em 1868, e faleceu em Fortaleza, em 1941. Foi ordenado sacerdote em 1891. A primeira publicação de um de seus sonetos foi em 1901. Seus sonetos eram publicados levados pelas mãos de amigos, pois era muito humilde, tímido e procurava fugir à publicidade. Foi membro da Academia Cearense de Letras.

[1] Costuma-se confundir poema com poesia. Poema é um gênero textual que utiliza as palavras como matéria-prima, organizando-as em versos, estrofes ou prosa, ou seja, apresenta uma estrutura que permite defini-lo como gênero. Poesia não está necessariamente relacionada à palavra escrita e contempla diversas manifestações artísticas e formas de expressão. Pode estar em um belo quadro, em uma escultura, um filme, uma música e até mesmo uma bela paisagem. Podendo ter a finalidade de manifestar sentimento e emoção
[2] Ver Poesia e o desenvolvimento infantil: Sentipensar. Publicação da Editora Valer, Ano I, n. 1, 2014, no catálogo da Valer Infantojuvenil e postado em maio/2016, neste blog.
https://smapeixoto.blogspot.com.br/2016/05/poesia-e-o-desenvolvimento-infantil-i.html#more



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8 comentários:

  1. Raina Martinsjaneiro 29, 2017

    Passou um filme em minha cabeça lendo esse texto e lembrando da minha infância. Uma das melhores e preferidas épocas de minha vida. Parabéns pelo excelente texto.

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  2. Só quem teve a oportunidade de ter uma infância realmente vivida, com todas as suas fases, pode se emocionar na alma com um texto desse! Parabéns!

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  3. Você me fez viajar.
    Suas memórias são cheias de poesia.
    Parabéns!

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  4. Respostas
    1. Que bom que gostaste!
      Agradeço teu comentário.
      Beijo.

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