quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Pausas... São possibilidades!

Por estes dias, tive a oportunidade de observar algumas crianças que insistentemente se queixavam de não estar fazendo nada e se dizendo chateadas por "não ter nada para fazer" e que estavam com "tédio".


Então, lembrei de uma texto de Augusto Cury que chamava a atenção para importância de “ensinar a fazer pausas e contemplar o belo”.


E ao fazer uma pequena pesquisa, não só encontrei o que procurava como também a postagem "Uma carta para meu filho entediado", de Tathiana Schulze, que quase na sua totalidade apresentava o que eu estava me propondo escrever.

Desta forma, decidi não mais escrever. E o motivo maior desta decisão é que a “blogueira” (como Tathiana se intitula) fala de sua "realidade", em Atlanta/EUA. O que contribui e reforça o que costumo falar – "criança é criança", aqui em Manaus, no Brasil, e em outros países, desde que resguardas as diferenças dos contextos em que vivem. Tathiana ainda destaca parte do texto de Augusto Cury.

Uma carta para meu filho entediado (1)


"Tem uma frase que as crianças usam constantemente aqui nos Estados Unidos e que me irrita (sim, eu me irrito às vezes com meus filhos): “I am bored”. A tradução seria algo do tipo: “Ah, estou entediado”, ou “ah não tem nada pra fazer aqui” ou “tá chato aqui”. Não importa onde você esteja, no parque, na casa de amigos ou numa festa, sempre vai ter uma criança reclamando que está entediada. Claro que não seria diferente com meus filhos. 

Esses dias, por exemplo, estávamos esperando em um lugar. Tínhamos que esperar uns 30 minutos e não demorou muito para que eles começassem: “I am bored, não tem nada pra fazer aqui, me dá seu celular pra eu brincar?” Juro que eu já estava enfiando a mão na bolsa pra pegar o celular e socorrer meus três pobres meninos que estavam entediados. Mas o lado mãe chata em mim falou mais alto e eu disse: “bem, vocês podem ficar entediados o quanto quiserem, não tem problema nenhum nisso, mas eu não vou dar meu celular pra vocês brincarem agora.”

Tenho certeza que por dentro deviam estar com raiva da mãe má que não está nem aí se de vez em quando eles se sentem entediados. Mas sabe de uma coisa?

Acho que temos acostumado muito mal nossos filhos, temos duvidado da capacidade deles de enfrentarem obstáculos e lidarem com seus próprios sentimentos. Eles sempre tem que estar ocupados, sempre tem que estar se divertindo ou distraídos com o celular ou ipad. Eles já não passam mais tempo sem fazer nada e não sabem o que fazer com o tempo livre, por isso se sentem entediados.

Mas a verdade, meus queridos e entediados filhos, é que a vida adulta é entediante muitas vezes: “lavar louça todo dia, arrumar as camas todo dia, ir pro trabalho todo dia. E mesmo que você tenha um trabalho que você ame, até neste
trabalho você terá momentos e dias entediantes. Um atleta que chega a participar de uma Olimpíada, por exemplo, tem muitos dias entediantes de treinos e mais treinos, repetição e mais repetição, antes daquele momento de glória e êxtase.

Casamento também tem seus dias entediantes, e por mais que você ame a pessoa que está ao seu lado, você vai ter que aprender a conviver com esses dias entediantes.

E porque, meus filhos, eu quero que vocês sejam bem sucedidos lá na frente, e porque eu quero que vocês aprendam a passar por dias entediantes sem desistir do trabalho, de um sonho ou de um casamento, eu vou deixar que vocês fiquem entediados de vez em quando. E eu não vou abrir correndo a bolsa e tirar o celular pra dar pra vocês na primeira reclamação nem na primeira cara feia. 

Embora eu ame brincar com vocês, e os nossos momentos andando de bicicleta juntos, fazendo bolinha de sabão no parque ou lendo um livro antes de dormir sejam os pontos altos do meu dia, eu não vou me sentir na obrigação de entretê-los o tempo todo e nem de comprar um ipad para vocês estarem ocupados e entretidos nos momentos que não temos nada pra fazer. Porque esses momentos em que não temos nada pra fazer e que estamos entediados são os momentos em que temos a oportunidade pra calar todas as vozes que ouvimos lá fora, seja da mídia, opiniões e palpites dos outros, pra refletir, pra ouvir o nosso coração. São esses momentos de tédio, nos quais nossa mente está desocupada de todo barulho do mundo, que podemos meditar, observar e entender as coisas que estão à nossa volta. São os momentos de tédio, meus filhos, que dão asas à imaginação.

Quantas e quantas brincadeiras já vi vocês inventarem nestes momentos de tédio, sem ipad nem televisão? Quantas cabaninhas de lençol, quantos jogos de pamponeta, quantas novas cantigas, quantos novos amigos vocês já não fizeram num momento de tédio? Saiba, meu filho, que estudar pra passar no vestibular vai ser entediante, se manter firme no seu compromisso diante do altar, o compromisso dos dias maus e dias bons, pobreza e riqueza, vai ser entediante muitas vezes, mas o resultado da disciplina vai valer a pena. E quando eu disser não para o celular ou joguinho, não ache que estou dizendo não para a diversão de vocês. Estou na verdade dizendo não para o excesso de estímulo, para o excesso de informação que seu cérebro ainda nem tem condições de processar.

Estou dizendo não para o fato de você se fechar diante da tela e não observar as outras crianças à sua volta, os cantos dos passarinhos e o sorrisinho dos bebês. Estou dizendo sim pra sua imaginação, pra sua criatividade. Estou dizendo que eu acredito em você, que eu sei que eu não preciso sair correndo com um ipad pra acalmar sua frustração.

“Nunca tivemos uma geração tão triste, tão depressiva. Precisamos ensinar nossas crianças a fazerem pausas e contemplar o belo. Essa geração precisa de muito para sentir prazer: viciamos nossos filhos e alunos a receber muitos estímulos para sentir migalhas de prazer. O resultado: são intolerantes e superficiais. A família precisa se lembrar de que o consumo não faz ninguém feliz. Suplico aos pais: os adolescentes precisam ser estimulados a se aventurar, a ter contato com a natureza, se encantar com astronomia, com os estímulos lentos, estáveis e profundos da natureza que não são rápidos como as redes sociais.” Augusto Cury.


Obs: Sim, os meninos assistem tv, jogam no computador de vez em quando e brincam com o celular de vez em quando. Já precisei recorrer a estes recursos algumas vezes numa consulta médica, numa viagem longa de carro ou numa reunião da escola. Mas o de vez em quando não pode virar o momento todo. Meu desejo é que tecnologia seja apenas uma parte da infância deles e não a parte principal."


(1) Postado em 31 de janeiro de 2016, no blog mamãe real, http://mamaereal.com/uma-carta-para-o-meu-filho-entediado/# Sobre a autora: Tathiana Schulze – a Blogueira – é de Curitiba/Paraná, jornalista e mora em Atlanta/EUA.

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4 comentários:

  1. Ai Sônia, esta doeu. Acertou na mosca. Li o que tinha que ler e não queria. Não é tão difícil aplicar isto nas escolas, mas em casa...

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    1. Verdade!
      É difícil, mas necessário.
      As crianças e jovens precisam se aventurar, com estímulos lentos, natureza, ... e muito mais!
      Grata pelo comentário!

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  2. Tenho exercitado isso em casa com o Miguel Sávio, e o papel de chata e insensível por não proporcionar "diversão" aparece! Esse texto me ajudou a arrumar o argumento certo! Muito interessante e extremamente necessário!

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    1. Fico feliz em contribuir de alguma forma. Grata pelo comentário.

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