sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

“Formatura na Educação Infantil”: Do que se fala nesta “festividade”?


O tema que aqui apresento já foi escrito e apresentado por mim em muitos encontros com professoras, pais e instituições de educação. Embora não seja um tema novo, ele se repete a cada ano com sua pseudomagnitude e relevância em instituições de Educação Infantil públicas e privadas.

Este ano não foi diferente. Mesmo que muitas instituições propaguem metodologias inovadoras, o que muitas vezes vemos são contradições entre o que dizem e o que fazem nestes espaços. Costumo dizer que o profissional que fala em alto e bom som que “a teoria é uma coisa e a prática e outra” deveria falar bem baixinho, ou seria melhor nem falar, pois isso diz MUITO do profissional que É.

Teoria e prática numa instituição de Educação Infantil (ou não) têm que ter coerência entre saberes e fazeres, que deveriam estar expressos em sua proposta pedagógica.

Do que estou falando? Das “formaturas” na Educação Infantil, dos “formandos do ABC”, dos “doutores do ABC”. E porque estas festas se repetem ano a ano? Os motivos e justificativas são diversas. Dentre muitas falas, localizamos os seguintes: porque é “bonitinho”, "as famílias querem e cobram", "é o final de uma etapa"...

Vamos ver o que os dicionários nos dizem sobre “formatura”: [1] – A colação de grau, popularmente chamada de formatura, é o momento em que, após cumprir as exigências curriculares de seu curso de
graduação, o aluno recebe o grau acadêmico de bacharel ou de licenciado, o qual lhe outorga os direitos e deveres profissionais, sendo imprescindível para o exercício das profissões...; ainda: A palavra formatura deriva de formar-se ou formação. A ‘formatura’ é uma cerimônia festiva de conclusão de um curso. É a conclusão de uma etapa da vida que transformou um grupo de pessoas. Nesse sentido, as formaturas podem ser vistas também como rituais de passagem: celebrações que marcam mudanças de fase de uma pessoa na sua comunidade e na sua formação. Os ritos de passagem podem ter caráter social, comunitário ou religioso. Mas, em geral, representam a marca de momentos importantes na vida das pessoas.

Se nos detivermos somente a estas definições, já teríamos motivos para justificar que na Educação Infantil não poderia ter festa de formatura e nem de doutores do ABC, porque as exigências curriculares são outras para o desenvolvimento infantil, porque não é conclusão de curso e nem etapa final. Pelo contrário é a primeira etapa da Educação Básica. E por que não fazer esta festa? Porque profissionais da infância não podem desenvolver ações por ser “bonitinho” e só porque as famílias cobram. Estas atividades/ações devem ser realizadas pela relevância pedagógica e por fazer parte da proposta pedagógica e porque cabe à instituição apresentar para as famílias a importância da realização ou não destas.

Por outro lado, cabe e é importantíssimo comemorar a cada final de ano, as conquistas adquiridas no processo vivenciado neste caminhar, com apresentações de atividades, danças, exposições de trabalhos etc. A participação das crianças no planejamento desta festividade é muito interessante.

Cabe ainda uma grande festa, para aqueles que estão saindo da pré-escola (mesmo em instituições que tenha os outros segmentos da Educação Básica), antecedida inicialmente por encontros com pais e crianças para conversas sobre a transição de atividades e espaços, com escolha e visita a outra instituição e finalizando com uma grande celebração com significado para a criança, para a família e para a instituição, onde todos se sintam prestigiados e pertencentes ao processo vivenciando antes, durante e depois (guardados principalmente na memória) e que possibilite à criança boas expectativas diante das etapas futuras, por ter desenvolvido autonomia e outros aspetos do desenvolvimento integral.

É importante destacar que o centro desta grande celebração deverá ser a CRIANÇA (e não os motivos citados acima) e neste caso é
preciso lembrar que para a criança comemoração está intimamente ligada a alegria e brincadeiras. Como “certificação”, além do que estará guardado na memória e no coração de todos, poderiam receber fotos do grupo, texto dos professores, álbum de atividades e/ou de fotos, registro do que querem lembrar sobre o que viveram na educação infantil.

Assim, todo fazer liga-se (ou não) a saberes, mas sempre sinalizam as concepções, sejam sobre infância, criança, currículo da Educação
Infantil e aprendizagens. Daí a necessidade dos educadores da infância embasarem seus fazeres em ações que tenham sustentações teóricas e clarificar concepções para realmente contribuir com o desenvolvimento da criança, que é realizado no brincar, que é “(...) conteúdo sério da vida (...) [2]” e por este motivo  é coisa séria.





Grifos feitos por mim.


[2] [...] Para o adulto, brincar é brincadeira, é um prazer que acrescenta à vida. Para a criança, o brincar é o conteúdo sério da vida. A criança leva seu brincar a sério; a característica do brincar infantil é que ele é sustentado pela seriedade. Só quem compreende a seriedade compreenderá o brincar da maneira correta. [...] – Rudolf Steiner. In: Pedagogia, Arte e Moral. Tradução Christa Glass. Coleção Temas Especiais, 2008.

* Imagens da internet.



3 comentários:

  1. UaU!!! vou refletir sobre tua postagem. Eu dizia que "é muito lindo" e nunca tinha pensado que é a primeira etapa da Educação Básica.
    Pôxa!!! Interessante.

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  2. Dando uma passeada nas postagens de teu blog, encontrei esta reflexão com gosto de "puxão de orelha" que me fez pensar sobre esta "festa" da qual fui grande defensora. Mas.. . Sempre é tempo de aprender. Obrigada.

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