"A Educação se divide em Educação das habilidades e Educação da sensibilidade. Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido".
Segundo Nietzsche,
a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É através dos olhos que as
crianças tomam contato com a beleza e o fascínio do mundo. Os olhos têm de ser
educados para que a nossa alegria aumente. As crianças não vêem “a fim de”. Seu
olhar não tem nenhum objetivo prático. Vêem porque é divertido ver.
Educar é mostrar a
vida a quem ainda não viu. O educador diz:”Veja!” – e, ao falar, aponta. O
aluno olha na direção apontada e vê o que nunca viu. O seu mundo se expande.
Ele fica mais rico interiormente. E, ficando mais rico interiormente, ele pode
sentir mais alegria e dar mais alegria – que é a razão pela qual vivemos.
Já li muitos
livros sobre Psicologia da Educação, Sociologia da Educação, Filosofia da
Educação, Didática – mas, por mais que me esforce, não consigo me lembrar de
qualquer referência à educação do olhar, ou à importância do olhar na Educação,
em qualquer um deles.
A palavra amor se
tornou maldita entre os educadores. Envergonham-se de que a Educação seja coisa
do amor – piegas. Mas o amor – Platão, Nietzsche e Freud o sabiam – nada tem de
piegas. O amor marca o impreciso e forte círculo de prazer que liga os corpos
aos objetos. Sem o amor tudo nos seria indiferente – indigno de ser aprendido,
inclusive a ciência. Não teríamos sentido de direção ou não teríamos
prioridades.
Prova de
inteligência não é possuir todas as ferramentas. É possuir as ferramentas de
que se vai necessitar. Sabedoria oriental: “O tolo soma ferramentas. O sábio
diminui as ferramentas.” O importante não é ter. É saber onde encontrar.
A Educação se
divide em duas partes: Educação das habilidades e Educação da sensibilidade.
Sem a educação da sensibilidade, todas as habilidades são tolas e sem sentido.
Os saberes – que
os professores ensinam – nos dão meios para viver.
Os sabores – que
os educadores despertam – nos dão razões para viver.
Nunca houve tanta
possibilidade de felicidade quanto agora. Aquilo que já sabemos chega para a
gente fazer um paraíso na terra. E por que é que não o fazemos? Porque o
conhecimento não basta. Sabedoria não se consegue com a soma de conhecimentos.
“Formatura”:
“formar” é colocar na fôrma, fechar. Um ser humano “formado” é um ser humano
fechado, emburrecido. Educar é abrir. Educar é “desformar”. Uma festa de
“desformatura”…
Educação não é a
transmissão de uma soma de conhecimentos. Conhecimentos podem ser mortos e
inertes: uma carga que se carrega sem saber sua utilidade e sem que ela dê
alegria. Educar é ensinar a pensar, isto é, brincar com os conhecimentos.
A memória não
carrega peso inútil em suas malas. Viaja leve. Leva sempre duas malas. Numa,
estão os objetos úteis. Noutra, estão os objetos que dão prazer.
Se o conhecimento
científico fosse condição para se fazer amor, os professores de anatomia seriam
amantes insuperáveis. Se o conhecimento acadêmico de gramática fosse condição
para se fazer literatura, os gramáticos seriam escritores insuperáveis.
Sobre o autor: Teólogo, educador, filósofo, psicanalista, cronista, escritor ou simplesmente um homem que amava viver.
Fonte:
https://www.contioutra.com/sabedoria-por-rubem-alves/
Nenhum comentário:
Postar um comentário