quarta-feira, 27 de maio de 2020

O desenho na formação do professor.


Para reaquecer o desenho: o ato de desenhar na formação do professor
                                                                              Por Marisa Szpigel – Zá


Mesmo que tenham familiaridade com o desenho, uma vez que em sala de aula observam e conversam sobre o assunto diariamente, colocar o professor para desenhar é sempre um desafio nas ações de formação. Mas continuar a pensar sempre sobre o desenho como linguagem exige que o professor experimente o processo de grafar. Como propor que o professor mergulhe em um processo que possibilite que ele, ao mesmo tempo, reflita sobre a linguagem e o apoie em suas ações pedagógicas?

Desenhar a partir de uma interferência no suporte, sem preocupar-se em figurar, para acompanhar o caminho da linha.

Colocar os professores diante uma situação em que se sentem pouco à vontade para
experimentar o ato de desenhar, além de desconfortável, não põem na posição que é desejável que coloquem seus alunos. Se a concepção de desenho que queremos que o professor entre em contato implica em descobrir esquemas gráficos particulares e não os impostos socialmente, é necessário criar propostas de desautomatizar o desenho, propondo ao mesmo tempo uma desconstrução e uma construção.

O elemento fundamental do desenho é a linha, mas não é qualquer linha que faz do desenho uma linguagem. Essa linha precisa ganhar a qualidade expressiva do desenhista, e é em
busca dessa linha expressiva que temos o desafio de lançar o professor.

Ao solicitar que ao desenhar procurem observar seu próprio ato [de desenhar], sem preocupação com o que desenhar, mas poder sentir a materialidade da linha, os caminhos que percorrem na superfície desenhada torna-se possível entender o gesto que produz o traço, experimentar intensidades diferentes do material com que está grafando, observar a ativação do espaço.

Se o corpo participa da ação de desenhar, é necessário sentir como ele se posiciona, e que a posição em que está provoca alterações na qualidade da linha. Desenhar em pé, sentado, agachado, deitado ou esticado faz diferença, e se não existe uma posição única para realizar desenhos, é importante que cada um encontre uma relação pessoal entre o corpo e a superfície que será marcada, para encontrar também a qualidade de linha que deseja.

A professora do Grupo 3, Andréa P. comentou que escolheu o papel Craft porque gosta de suportes grandes. Queria explorar o gesto.  Escolheu colocar o suporte em um lugar alto para poder ver a linha aparecer ao acaso, e interagir com ele. Deixar a tinta escorrer e acompanhá-la com o gesto, um pouco controlar e um pouco não controlar o desenho. No meio do processo, percebeu que o material, às vezes, coloca uma limitação. Após a experiência, concluiu:

“Quando passamos por esse tipo de experiência temos mais condições de pensar nas
situações em sala de aula. Se oferecermos para as crianças o mesmo suporte, colocando-o no mesmo lugar para todo o grupo, é possível observar as pesquisas de gestos para oferecer novas possibilidades para que os alunos conheçam e mudem os suportes e continuem investigando as possibilidades de gestos e a criação de linhas, movimentos e gestos.”

E como encontrar um esquema gráfico  desprovido de esquemas impostos socialmente, por exemplo, a figura humana, a árvore e a casinha? Para mexer com esquemas gráficos que estão há muito tempo cristalizados, o desenho de observação de algo novo, que ainda não foi desenhado pode ser revelador de uma linha mais expressiva. Para desenhar algo em que não há esquema ainda é preciso inventar um esquema e, desse modo, a linha para esse esquema não surge automaticamente, é uma linha que precisa ser descoberta, experimentada pela primeira vez.

Escolher o que desenhar, buscar o enquadramento desejado, localizar o desenho no papel e ver nascer um esquema gráfico pode ser muito revelador de uma linha expressiva.

Refletir sempre sobre o desenho da criança é um ponto fundamental na formação do professor. Passar pela experiência de desenhar contribui para que o professor mergulhe na linguagem e resgate o vínculo com a prática, reaquecendo um pensamento que só pode ser acionado no ato de desenhar. Experimentar diferentes modos de desenhar, a partir de propostas análogas às experiências das crianças da Educação Infantil, pode favorecer maior aproximação com o pensamento da criança acerca do desenho.

A professora Day, do Grupo 2, preferiu fazer desenho de observação das expressões faciais.
Disse que enquanto ouvia a proposta, começou a imaginar as linhas expressivas que se desenhariam em sua face. Comentou ao apreciar sua produção: “Os desenhos não ficaram esteticamente interessantes, ou seja, não ficaram bonitos. A beleza estava no processo de pesquisa de linhas perdidas; eu estava mais atenta na busca das linhas de expressão”.

Fonte - https://www.escoladavila.com.br/blog/?p=8431. Postado em 30 de agosto de 2013 by - Centro de Formação.

Sobre a Autora: Marisa Szpigel (Zá) - Professora de arte do Ensino Fundamental 2 da Escola
da Vila é formadora do Centro de Formação da Escola da Vila desde 1993. Trabalha na Escola da Vila desde 1992, atuando como professora da Educação Infantil, do Ensino Fundamental 1 e Fundamental 2.
Realizou ações de formação e coordenação em diferentes Instituições Culturais e Educativas, tais como Fundação Bienal de São Paulo, MAM – Museu de Arte Moderna - SP, IMS – Instituto Moreira Salles – SP, SESC, Comunidade Educativa – CEDAC.
Atualmente orienta um grupo de estudos no Museu da Casa Brasileira – SP e é assessora de Arte da Beacon School.
É formada em Artes Plásticas pela FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado, com licenciatura plena em Arte.

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