sexta-feira, 3 de julho de 2020

QUEM ME ROUBOU DE MIM? O sequestro da subjetividade e o desafio de ser pessoa (Padre Fábio de Melo)


APRESENTAÇÃO

Este livro não é um ensaio teológico. Também não é um tratado de antropologia especializada. É apenas a satisfação de um desejo simples, menor. Desejo de abrir portas, romper cativeiros, acender luzes, propor liberdade. Desejo de expor o assombro que tenho experimentado ao ver as dores do mundo, os calvários da humanidade.

As dores são muitas. Então quis eleger uma delas: o sequestro da subjetividade. Um roubo silencioso que nos leva de nós: acontecimento comum, mas não noticiado, que fragiliza e impossibilita o humano de viver a realização para a qual foi feito.

A vida humana é uma constante experiência de travessia. Estamos em êxodos contínuos, em processos de deslocamentos intermináveis, porque, enquanto estivermos vivos, seremos convidados para o movimento que nos proporciona a superação de estágios, condições e atitudes.

O ser humano se encontra cm constante evolução. Nunca estará completo. A morte nos surpreenderá e ainda estaremos em processo de feitura. Um destes processos é a travessia: "da condição de indivíduos à condição de pessoas". É simples. Nascemos indivíduos, mas a condição de pessoa é um lugar a ser alcançado. Precisamos, pela força do aperfeiçoamento, chegar aos dois pilares sobre os quais o conceito de pessoa se estabelece. Ser pessoa consiste em "dispor de si e dispor-se aos outros".

O sequestro da subjetividade é um acontecimento que atenta diretamente contra o primeiro aspecto deste processo: "a disposição de si".

Toda relação que priva o ser humano de sua disposição de si, de sua pertença, ou seja, a capacidade de administrar a própria vida, alguma fôrma caracteriza-se como "sequestro da subjetividade"!

A palavra "sequestro" já é absolutamente familiar a todos nós. Habitualmente acompanhamos pelos noticiários casos de pessoas que são separadas de suas famílias e mantidas em cativeiros. E o sequestro do corpo. Estabelecida à ruptura, começa a negociação entre familiares e sequestradores. O desfecho desta modalidade de violência dependerá do resultado da negociação.

O sequestro do corpo é uma fôrma de roubo. Alguém foi materialmente levado de seu meio.

O livro partirá desta forma de sequestro. Sempre que uma pessoa é retirada de seu mundo particular, e subjugada aos maus tratos de um cativeiro, inicia-se nela um processo terrível de rendição que a colocará na condição de vítima. Vitimada, deixa de ser proprietária de seu destino e passa a obedecer às ordens de seu sequestrador.

Paralelamente ao sequestro da materialidade, colocaremos a questão do sequestro da subjetividade, uma espécie de roubo que não é material, não possui cativeiros materiais, localizados, e que pode ter início nas relações que estabelecemos.

A partir dessa forma de sequestro nasce o mal-estar psicológico, o sofrimento que não tem localidade no corpo, mas possui o poder de adoecê-lo. Fragilizando profundamente o ser que sofre, uma vez que o sequestro lhe retira da centralidade de suas próprias decisões.

São muitas as modalidades de sequestro da subjetividade. Qualquer forma de relação humana corre o risco de se transformar.

Em roubo, perda de identidade, basta que as partes se percam de seus referenciais e se ausentem de si mesmas. Marido e mulher, namorados, pais e filhos, traficantes e dependentes, amigos, dirigentes e dirigidos, enfim, são muitas as relações que representam perigo a nossa subjetividade. Requer prudência, cautela, para que não sejamos vitimas ou vitimadores.

É importante salientar que aqui a reflexão está amparada nos princípios evangélicos. O porto do qual partimos é a experiência concreta de Jesus e sua palavra, capaz de promover a vida e a liberdade necessária para bem vivê-la.

O contexto da palavra de Jesus é o simbólico. Símbolo é a realidade que estabelece pontes, gera entendimento e superação. A vida e a postura de Jesus estão sempre em oposição declarada às realidades diabólicas de seu tempo. Diferente do simbólico, o diabólico quebra, desagrega, impede. Sequestros da subjetividade possuem o poder de quebrar a estrutura daqueles que o experimentam. É a partir disso que analisaremos as relações humanas como simbólicas e diabólicas, identificando nelas os caminhos dos sequestros e das devoluções.

Relações simbólicas são aquelas que nos permitem o crescimento e a superação de nossos limites porque são capazes de estabelecer pontes que nos permitem travessias. Relações diabólicas são aquelas que nos paralisam e nos fazem retroceder porque obstaculizam os caminhos. 

Este livro quer ser simbólico, porque está comprometido com o desejo de lhe fazer bem. Ele é uma aventura desejada. Considere-o como uma pequena viagem, cujas estradas passam pela vida de muitas pessoas que cruzaram o nosso caminho. 

Para que esta viagem seja tranquila, algumas "placas" serão nossos guias. São conceitos da Filosofia e da Teologia cristã que serão explicitados. Se, em algum momento da leitura, o texto lhe parecer difícil, vença o desafio. Não permita que a preguiça lhe sequestre. Vá adiante. Todo livro precisa nos acrescentar algo novo. Toda forma de saber nasce de um não saber.

Pronto. A viagem vai começar. Agradecemos sua presença. Precisamos dilatar as consciências que temos de nós mesmos, É assim que Deus ganha espaço em nós. Quanto mais consciente do que somos, fazemos e podemos, seremos homens e mulheres mais realizados, prontos para o desafio de transformar o mundo.

A Teologia Cristã tem avançado muito na compreensão de que a realização humana é o mesmo que a revelação de Deus. Esta tem sido nossa crença. Onde houver um ser humano realizado, nele Deus estará revelado.

Queiramos isso. Sempre. Até o fim. O fim que não tem fim.

* INDICO A LEITURA .
** Grifos feitos por mim.

Fonte - Padre Fábio de Melo http://groups.google.com.br/group/digitalsource 

Observação no site - Esta obra foi revisada pelo grupo Digital Source para proporcionar, de maneira totalmente gratuita, o benefício de sua leitura àqueles que não podem comprá-la ou àqueles que necessitam de meios eletrônicos para ler. Dessa forma, a venda deste e-book ou até mesmo a sua troca por qualquer contraprestação é totalmente condenável em qualquer circunstância. A generosidade e a humildade é a marca da distribuição, portanto distribua este livro livremente. Após sua leitura considere seriamente a possibilidade de adquirir o original, pois assim você estará incentivando o autor e a publicação de novas obras. EDITORA CANÇÃO NOVA


SOBRE O AUTOR - Padre Fábio de Melo é um sacerdote católico, cantor, compositor, poeta, escritor, professor e apresentador. 

(mais dados biográficos em   https://fabiodemelo.com.br/biografia/ )

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