segunda-feira, 26 de abril de 2021

Onde está a minha esperança? (Rubem Alves)

 

“Se eu souber onde mora a minha esperança, terei razões para viver e razões para morrer. E a vida ficará bela mesmo no meio das lutas".

"Sei muito bem onde minha esperança não está. Não está também nas elites, sejam ricos ou doutores, intelectuais ou empresários. Não está em partido político algum, de direita ou de esquerda. E nem nos poderes legislativo, executivo, ou judiciário. Também não está nas igrejas nem nos movimentos religiosos.

Não coloco minha esperança em coisa alguma que seja definida por categorias sociais. Olho para todas elas com profundo desinteresse. Jamais comprometeria a minha vida com qualquer delas.

Onde está a minha esperança? A minha esperança está numa multidão de indivíduos, independentemente do seu lugar social ou econômico, que vivem possuídos pelo sonho da vida, da beleza e da bondade. A esperança de Camus(*) estava no mesmo lugar que a minha":

“Já se disse que as grandes ideias vêm ao mundo mansamente, como pombas. Talvez, então, se ouvirmos com atenção, escutaremos, em meio ao estrépito de impérios, e nações, um discreto bater de asas, o suave acordar da vida e da esperança. Alguns dirão que a tal esperança jaz numa nação; outros, num homem. Eu creio, ao contrário, que ela é despertada, revivificada, alimentada por milhões de indivíduos solitários, cujos atos e trabalho, diariamente, negam as fronteiras e as implicações mais cruas da história. Como resultado, brilha por um breve momento a verdade, sempre ameaçada de cada e todo homem, sobre a base de seus próprios sofrimentos e alegrias, constrói para todos”.



Fonte - Extraído do livro “Pimentas” – de Rubem Alves. Página 136 – Editora Planeta, São Paulo, 2014. 

(*)  Albert Camus (1913-1960) foi um escritor, jornalista, romancista, dramaturgo e filósofo argelino, nasceu em Mondovi/Argélia - 7 de novembro. Ficou conhecido por agregar reflexões existencialistas em suas publicações, sendo considerado por muitos como um filósofo. Recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1957 pelo conjunto de sua obra.

Albert Camus falece em Villeblevin, França, no dia 04 de janeiro de 1960, em um acidente de carro, perto de Sens, na França.


4 comentários:

  1. Muito bom este texto. Vivemos tempos difíceis em que ficamos desanimados com posicionamentos tão pouco construtivos, para dizer o mínimo. Reflexões como esta são importantes para lembrarmos que não podemos perder a esperança, e podemos fazer isto nos concentrando naquilo que é mais importante, como a gestão de talentos e a valorização das pessoas.

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  2. Muito bom! Pessoas do bem e que fazem o bem. Essa é a nossa esperança!

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