terça-feira, 29 de junho de 2021

O tempo (Bráulio Bessa)


O tempo…

 

Sempre vivo e indeciso,

ora corre, ora voa,

consegue curar feridas,

no mesmo instante as magoa.

Ninguém escapa do tempo

invisível feito o vento

que toca qualquer pessoa.

 

O tempo me modelou,

me arrancou do meu ninho,

clareou os meus cabelos,

me bateu, me fez carinho.

O tempo me fez voar,

me ensinou a caminhar,

mas não mostrou o caminho.

 


Por tanto tempo o tempo

fez papel de diretor,

um roteirista confuso,

ora ódio, ora amor,

gritando silencioso,

tão claro e misterioso

feito o mar pro pescador.

 

O tempo me fez poeta,

artista, palco e cenário,

me fez imaginação,

aí, encontrou um páreo,

pois, para o tempo, o artista

sempre foi um adversário.

 

Só o artista segura 

e faz parar o ponteiro

que faz o dia ser noite

e último ser primeiro,

e que tem a ousadia

de determinar o dia

que será o derradeiro.

 

A liberdade da arte

deixa o tempo aprisionado,

faz o relógio da vida

adiantado, atrasado,

e num segundo de paz

toda guerra se desfaz

se o relógio for parado.

 

Já que o tempo é infinito

e o artista o domina,

ser eterno e ser mortal

talvez seja minha sina,

atuar num espetáculo

que nunca fecha a cortina.

 

A única previsão

que é certa sobre o tempo

é que ele vai passar.

Por isso cada momento

deve ser aproveitado,

vivido e depois guardado

na caixa do pensamento.

 

O tempo está sempre vivo

num grande desassossego,

inquieto, inconstante,

é pancada e é chamego,

é solução e problema.

O tempo é só um poema

dizendo: já fui, já chego.


Sobre o autor - Bráulio Bessa Uchoa é um poeta,
cordelista, declamador e palestrante brasileiro.

Nascimento: 1985, em Alto Santo, Ceará.


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