quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

EMPATIA – IMPORTÂNCIA PARA O CONVÍVIO SOCIAL

 

A empatia é a arte de se colocar no lugar do outro a fim de compreendê-lo emocionalmente.

Trata-se de uma capacidade poderosa e transformadora, pois faz com que as pessoas se relacionem de modo mais respeitoso e compassivo, algo que a sociedade realmente precisa. Consegue imaginar o quanto o mundo seria melhor se um se colocasse no lugar do outro antes de agir? Certamente teríamos uma redução drástica no número de desentendimentos, agressões e outros tipos de problemas.

Empatia - importante  para os relacionamentos entre familiares, amigos, colegas de trabalho, e a sociedade como um todo...

Entenda o que é empatia na prática

Cada indivíduo enxerga o mundo à sua maneira, de acordo com suas vivências e seus valores. É por isso que um grupo de pessoas pode ter opiniões tão distintas sobre um mesmo assunto, porque cada uma tem uma história pregressa que a fez pensar dessa ou daquela forma. Isso é natural e até saudável, pois permite que um aprenda com o outro, mas, para que esse benefício seja alcançado, é preciso que haja respeito ao diferente, o que só é possível quando existe empatia.

Para que se entenda melhor, vamos imaginar uma situação que se tornou bastante comum nos últimos anos no Brasil, as divergências políticas. Familiares, amigos, colegas de trabalho, muitos se afastaram por discordar uns dos outros. Relacionamentos de anos interrompidos porque um não conseguiu se colocar no lugar do outro para buscar entender o que o motivou a ter aquela opinião.

Sim, a empatia poderia ser bastante útil em uma situação assim. Quando você é empático, consegue se colocar no lugar do outro para imaginar os motivos pelos quais ele pensa de determinada maneira em relação à política e outros temas, e dá para fazer isso mesmo sem concordar e achar que aquilo está certo.

A autora inglesa Evelyn Beatrice Hall, ao escrever a biografia de Voltaire, resumiu em uma frase uma das ideias mais importantes do filósofo e que tem tudo a ver com a empatia em relação aos pensamentos de terceiros: “Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo”. Quando se é empático, você reconhece a diversidade presente no mundo e busca compreendê-la e respeitá-la em vez de apenas julgar.

Motivos pelos quais a empatia é importante para o convívio social

Depois de entender o que é a empatia na prática, veja sete motivos pelos quais ela é um valor essencial para o convívio em sociedade.

1 – Gera respeito

Todo ser humano deseja ser tratado com respeito, em qualquer situação. Entretanto, nem todos tratam os demais de modo respeitoso, o que ocorre exatamente pela falta de empatia. Quando se é empático, o respeito se torna algo intrínseco ao comportamento do indivíduo, porque ele sempre irá pensar que poderia estar naquele outro lugar, de estar necessitando de uma ajuda, de ter uma opinião diferente, enfim, em qualquer tipo de situação.

2 – Evita conflitos

Basicamente, os conflitos acontecem quando duas pessoas têm divergência de ideias e uma não consegue compreender a outra, algo que poderia ser resolvido através da empatia. É claro que quando uma decisão que irá impactar a vida de dois ou mais indivíduos precisa ser tomada, é realmente importante que cada um exponha sua visão. Mas, se todos forem empáticos conseguirão fazer isso de forma muito mais amigável e produtiva, chegando a um meio termo que não privilegie e nem prejudique demais nenhum dos envolvidos.

3 – Faz bem para os relacionamentos

A empatia é um valor essencial em qualquer tipo de relacionamento, sem ela, os envolvidos irão agir focados apenas em seus próprios interesses, deixando de lado aspectos muito importantes em relações entre amigos, familiares, cônjuges. Enxergar as coisas através da perspectiva do outro é necessário para que haja respeito, entendimento em relação aos sentimentos envolvidos, demonstrações de carinho, perdão. Ser empático permite que visite o mundo do outro a fim de conhecê-lo melhor e aprenda a lidar com ele de modo positivo.

4 – Estimula gestos de solidariedade

O ser humano, de modo geral, tem a tendência de se sensibilizar com histórias tristes. Porém, isso pode gerar dois tipos de sentimento: pena e empatia. No primeiro caso, há apenas a tristeza pelo que foi visto e pronto, nada acontece. Já quando se trata de empatia, o fato de uma pessoa se colocar no lugar da outra, faz com que ela sinta uma grande vontade de ajudar a reduzir aquele sofrimento através de um gesto solidário. Pessoas envolvidas em causas sociais o fazem principalmente porque são empática e têm a consciência de que poderiam ser elas precisando daquela ajuda.

5 – Mais entendimento entre as pessoas

Quanto mais as pessoas se colocam no lugar umas das outras, mais elas conseguem se entender, se respeitar e aprender lições poderosas através dessas experiências. Isso é maravilhoso porque promove a união em vez do afastamento e sabemos o quanto seres humanos unidos tornam-se capazes de realizar coisas grandiosas. O entendimento faz bem para famílias, comunidades, empresas, para o mundo!

6 – Comunicação mais eficaz

Comunicar-se é o ato de transmitir uma mensagem para uma ou várias pessoas. Para que isso seja feito de maneira eficaz, é preciso usar as palavras certas para que o interlocutor realmente compreenda o que está sendo dito, o que se torna ainda mais forte através da empatia. Um indivíduo que possui essa habilidade emocional pensa em quem irá ouvir antes de simplesmente dizer o que lhe vem à cabeça, adaptando a mensagem de acordo com quem irá recebê-la.

7 – É boa para os negócios

Uma empresa que não tem a empatia como um de seus valores, provavelmente não conseguirá oferecer produtos e serviços que estejam de acordo com o que os clientes precisam. Esse olhar sensível de pensar em soluções através do ponto de vista do consumidor e oferecer um atendimento que siga o mesmo princípio, é o que permite que as companhias se destaquem no mercado e tornem-se referência em sua área de atuação.

Dicas para ter mais empatia e contribuir para um convívio harmônico em sociedade

Em vez de se lamentar por conta da falta de empatia na sociedade, escolha fazer a sua parte e contribuir para um convívio mais harmônico. Acredite, através de pequenas atitudes em seu dia a dia, poderá influenciar pessoas ao seu redor e promover mudanças positivas.

1 – Faça o exercício constante de se colocar no lugar dos outros

A primeira dica é um tanto quanto óbvia, mas é o passo mais importante para tornar a empatia um valor presente em suas ações. Busque fazer esse exercício sempre, colocando-se no lugar de qualquer pessoa que, por algum motivo, lhe gerar algum tipo de incômodo. Quando perceber essa resistência, pare e se imagine naquele lugar, mas faça isso de todo o coração, considerando todos os detalhes envolvidos. Provavelmente sua visão a respeito do outro irá se transformar.

2 – Ouça as pessoas com toda sua atenção

Ouvir na essência é um gesto altamente empático e que pode transformar o modo com o qual as pessoas se relacionam. Em vez de usar o tempo de fala do outro durante uma conversa para formular o que vai dizer, prefira ouvi-lo com toda a sua atenção. Faça perguntas se precisar de alguma informação extra, isso também funciona como uma demonstração do seu interesse e certamente tornará o diálogo mais produtivo.

3 – Evite ao máximo julgar

Quando julgamos alguém, nos colocamos em uma posição de superioridade, como se nunca fôssemos cometer aquele mesmo erro, o que na maioria das vezes não é verdade. Portanto, ao perceber que está julgando outra pessoa, pare e faça o exercício sugerido na dica número 1. E se fosse você naquela mesma situação, como estaria se sentindo? Gostaria de ter outras pessoas te julgando? Responda essas perguntas a si mesmo da forma mais sincera possível e comprove que julgamentos desse tipo nunca são justos.

4 – Ajude alguém sempre que puder

Permita que a empatia que sente seja uma semente de compaixão e solidariedade, ajudando outras pessoas sempre que isso estiver ao seu alcance. Vale ressaltar que, para fazer isso, você não precisa ter o poder de mudar completamente a vida do outro, uma atitude simples já é capaz de promover uma grande diferença, nem que seja para que aquele que recebê-la se sinta acolhido.

5 – Trate a todos com o mesmo respeito com o qual gostaria de ser tratado

Por fim, busque sempre usar a empatia como combustível para o respeito. Antes de se exaltar com alguém no trânsito, fazer algo que prejudique um terceiro, agir com grosseria, pense se gostaria que fizessem o mesmo contigo. Esse é o melhor termômetro para medir suas ações e contribuir para um convívio social mais positivo. E quando errar, porque é natural que isso aconteça, tenha o respeito de reconhecer a falha e pedir desculpas.

Tenha sempre em mente que o oposto da raiva não é a calma e sim a empatia, ela é a melhor conselheira que alguém pode ter. (...).

 Fontes: https://www.ibccoaching.com.br/portal/comportamento/empatia-qual-sua-importancia-convivio-social/

Sobre o autor: José Roberto Marques estudioso do Desenvolvimento Humano. Focado no propósito de fazer com que o ser humano seja capaz de atingir o seu Potencial Infinito. Fundou o IBC - Instituto Brasileiro de Coaching em 2007. É autor de mais de 50 livros publicados.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

É preciso remar contra a corrente... (Postado em 13/11/2017)

 

A possibilidade de refletirmos sobre vários aspectos do SER HUMANO e das várias dimensões que devem estar presentes na arte de “com-viver” é contemplada nas palavras de .Mia Couto na cerimônia de recebimento do Título de Doutor Honoris Causa em 2015.

Destaco aqui parte de suas palavras naquele momento...


 

"[...]. Um dia destes, um jovem funcionário propôs-me o pagamento de um suborno para emitir um documento. Aquilo não correu bem porque ele, num certo momento, reconheceu-me e recuou nos seus propósitos.

 

Para se redimir o jovem explicou-se da seguinte maneira: - Sabe, senhor Mia, eu gostava muito de ser uma pessoa honesta, mas falta-me o patrocínio.

 

Não será exatamente o patrocínio que nos afasta da honestidade. O que nos falta é criar uma narrativa que prove que a honestidade vale a pena. Houve quem confundisse o combate contra a pobreza absoluta pelo combate pela ganância absoluta. Sugeriram-nos que a autoestima pode ser resolvida pela ostentação do luxo.

 

Uma certa narrativa quer ainda provar que vale a pena mentir, que vale a pena roubar, e que vale a pena tudo menos ser honesto e trabalhar. Aliás, a palavra “trabalho” suscita fortíssimas alergias. Podem-se ter negócios, podem-se ter projetos. Mas ter um trabalho isso é que nunca. Que o trabalho leva muito tempo e, além disso, dá muito trabalho. Mas, no fundo, todos sabemos: enriquecer rápido e sem esforço só pode ser feito de uma maneira: roubando, vigarizando, corrompendo e sendo corrompido. Não existe, no mundo, inteiro, uma outra receita.

 

Preocupa-nos que os nossos estudantes entrem para universidade com fraco desempenho acadêmico. Pois eu acho mais preocupante ainda que os nossos jovens cresçam sem referências morais.

 

Estamos empenhados em assuntos como o empreendedorismo como se todos os nossos filhos estivessem destinados a ser empresários. Ocupamos em cursos de liderança como se a próxima geração fosse toda destinada a criar políticos e líderes. Não vejo muito interesse em preparar os nossos filhos em serem simplesmente boas pessoas, bons cidadãos do seu país, bons cidadãos do mundo.

 

Escrevi uma vez que a maior desgraça de um país pobre é que, em vez de produzir riqueza, vai produzindo ricos. Poderia hoje acrescentar que outro problema das nações pobres é que, em vez de produzirem conhecimento, produzem doutores (até eu agora já fui promovido...). Em vez de promover pesquisa, emitem diplomas. Outra desgraça de uma nação pobre é o modelo único de sucesso que vendem às novas gerações. E esse modelo está bem patente nos vídeo-clips que passam na nossa televisão: um jovem rico e de maus modos, rodeado de carros de luxo e de meninas fáceis, um jovem que pensa que é americano, um jovem que odeia os pobres porque eles lhes fazem lembrar a sua própria origem.

 

É preciso remar contra toda essa corrente. É preciso mostrar que vale a pena ser honesto. É preciso criar histórias em que o vencedor não é o mais poderoso. Histórias em que quem foi escolhido não foi o mais arrogante, mas o mais tolerante, aquele que mais escuta os outros. Histórias em que o herói não é o lambe-botas, nem o chico-esperto. Talvez essas histórias sejam o tal patrocínio que faltou ao nosso jovem funcionário.


Tudo isto é urgente e imperioso. Porque nós estamos na eminência de desacreditar de nós mesmos. Todos nós já escutamos de alguém a seguinte desistência: não vale a pena, nós somos assim. Nós somos cabritos à espera de ser amarrados num qualquer pasto. Estamos a aprender a desqualificarmo-nos. Estamos a replicar o racismo que outros inventaram para nos despromover como um povo de qualidade moral inferior.

E vou terminar partilhando um episódio real que foi vivido por colegas meus. Depois da Independência, um programa de controlo dos caudais dos rios foi instalado em Moçambique. Formulários foram distribuídos pelas estações hidrológicas espalhadas pelo país. A guerra de desestabilização eclodiu e esse projeto, como tantos outros, foi interrompido por mais de uma dúzia de anos. Quando a Paz se reinstalou, em 1992, as autoridades relançaram esse programa acreditando que, em todo o lado, era necessário recomeçar do zero. Contudo, uma surpresa esperava a brigada que visitou uma isolada estação higrométrica no interior da Zambézia. O velho guarda tinha-se mantido ativo e cumprira, com zelo diário, a sua missão durante todos aqueles anos. Esgotados os formulários, ele passou a usar as paredes da estação para registrar, a carvão, os dados hidrológicos. No interior e exterior, as paredes estavam cobertas de anotações e a velha casa parecia um imenso livro de pedra. Ao receber a brigada o velho guarda estava à porta a estação, com orgulho de quem cumpriu dia após dia: acabou-se o papel, disse ele, mas os meus dedos não acabaram. Este é o meu livro. E apontou para a casa. [...]”

 

 

Fontehttp://www.folhademaputo.co.mz/pt/noticias/nacional/aula-de-mia-couto-durante-a-cerimonia-doutor-honoris-causa-completa/

 

Imagens da Internet.

 

 

Sobre o autor - Mia Couto, pseudônimo de António Emílio Leite Couto, é um escritor e biólogo moçambicano. Nasceu em 5 de julho de 1955 – Beira, Moçambique. Mia Couto é um “escritor da terra”, escreve e descreve as próprias raízes do mundo, explorando a própria natureza humana na sua relação umbilical com a terra. A sua linguagem extremamente rica e muito fértil em neologismos, confere-lhe um atributo de singular percepção e interpretação da beleza interna das coisas. Cada palavra inventada como que adivinha a secreta natureza daquilo a que se refere, entende-se como se nenhuma outra pudesse ter sido utilizada em seu lugar. As imagens de Mia Couto evocam a intuição de mundos fantásticos e em certa medida um pouco surrealistas, subjacentes ao mundo em que se vive, que envolve de uma ambiência terna e pacífica de sonhos – o mundo vivo das histórias. Mia Couto é um excelente contador de histórias. É o único escritor africano que é membro da Academia Brasileira de Letras, como sócio correspondente, eleito em 1998, sendo o sexto ocupante da cadeira nº 5, que tem por patrono Dom Francisco de Sousa.

In - http://www.miacouto.org/biografia-bibliografia-e-premiacoes/


 

OBSERVAÇÃO - texto postado neste Blog em 13/11/2017.