quinta-feira, 21 de julho de 2016

Métodos e processos de alfabetização: saberes necessários à formação do professor

Muito se tem discutido sobre alfabetização, letramento, o despertar do prazer pela leitura/escrita e as relações com o desenvolvimento das capacidades de compreensão e valorização da cultura escrita, da apropriação do sistema de escrita/leitura, da produção escrita e do desenvolvimento da oralidade em crianças, jovens e adultos. 

A necessidade de ressignificação de saberes que se relacionam a esta temática é visível, pois com muita freqüência se observa equívocos conceituais nas falas e nos fazeres dos que estão responsáveis 'mais diretamente' em mediar estes saberes.

Ao perguntarmos à professores, sobre o método utilizado por eles para o desenvolvimento destes saberes, a resposta nos surpreende pois estes, citam os ‘nomes de cartilhas’, o que certa forma, pode sinalizar o desconhecimento de que ‘cartilhas’ (quando usadas), são ‘ferramentas’ de um método e/ou processo.

Tenho participado de momentos formativos sobre o tema “Métodos e processos de alfabetização: saberes necessários à formação do professor”. Recentemente, apresentei esta proposta temática, para professores de duas escolas (municipal e particular). 

Nas duas unidades de ensino, iniciei a proposta formativa propondo a ‘leitura de imagens’ que seriam apresentadas nos slides.
A seguir apresentei alguns teóricos que tratam da temática: Emília Ferreiro, Ana Teberosky. Magda Soares, Mary Kato, Ângela Kleiman e Leda Tfouni.
Dodestacando a fala de Emilia Ferreiro[1] que em entrevista, rejeita o uso do termo ‘letramento’ por ser atribuído a ‘alfabetização’ a função de decodificar e ‘letramento’ a de estar em contato com vários tipos de texto, com compreensão do que foi lido. Segundo a autora, este entendimento ‘é um retrocesso’ e dá “razão à velha consciência fonológica”. Neste sentido, Emilia Ferreiro, se nega a aceitar que a alfabetização seja entendida como momento inicial da percepção da função social do texto.

A linha de pensamento, sistematizada para minha fala, teve os seguintes destaques:

LETRAMENTO
ü     Palavra inglesa “literacy” - traduzida como “condição de ser letrado”;
ü     Ser alfabetizado em um contexto onde leitura e escrita tenham sentido;
ü   Saber ler e escrever, e responder adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita.

ALFABETIZAR - LETRAR
ü     Ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita.

ALFABETIZAÇÃO – LETRAMENTO
ü    A linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma ativa e grupal do ponto de vista cultural e social.
ü  Mudar uma concepção não é e não pode ser considerada como fato simples.
ü   Proposta de mudança de conceitos relacionados à alfabetização.
§ Se aceitos, deverão vir acompanhados de mudanças também nas escolhas metodológicas e nos procedimentos didáticos.

QUESTIONAMENTOS...

ü     Os métodos ‘tradicionais’ eram eficazes?
ü     Como alfabetizar pelos métodos ‘inovadores’?
ü     Os ‘tradicionais’ diziam como fazer! Nos inovadores por onde começar e por onde terminar?
ü     De que método inovador se fala?
ü    O que norteia a ação do professor no tradicional e no inovador?
ü   Se no ‘inovador’ não se sabe onde começar nem onde terminar... E no ‘tradicional’ tendo um “direcionamento”, por que alguns professores (e não são poucos) se dizem inovadores e têm praticas contraditórias à suas falas? Por que ainda assim, não querem ser conhecidos como tradicionais?

UM GRANDE QUESTIONAMENTO:
ü  O que poderá estar ocasionando um grande número (índices) de crianças, jovens e adultos analfabetos funcionais?
§ Terminologia - sugerida nos anos 70, pela UNESCO - identificar pessoas que mesmo lendo e escrevendo, não utilizavam de forma satisfatória a leitura e a escrita
§  Iletrado - aquele que não é letrado

ANÁLISE E SÍNTESE
ü     Capacidades IMPORTANTES no processo de alfabetização
§    A ação pedagógica deve estar atenta ao desenvolvimento destas capacidades
Desenvolvimento de Capacidades(!!??)

MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO RELACIONADOS À LÍNGUA ESCRITA
ü     Ênfase a análise e/ou a síntese
       § Há autores que defendem um terceiro método [utiliza no processo a análise e a síntese alternadamente] denominado de várias formas – eclético, misto, natural, etc.

MÉTODO ANALÍTICO
ü Ênfase ao processo de compreensão de sentido, de análise - trabalha através da progressão pedagógica - das unidades mais complexas [o texto, a palavra, a frase] até as unidades mais simples [sílabas e sua decomposição grafemas e fonemas]
§    É também denominado de global

PROCESSOS DO MÉTODO ANALÍTICO
ü   Conto - considera o texto como ponto de partida para chegar às unidades mais simples – letras.
ü    Palavração - decompõem a palavra em silabas.
ü    Sentenciação - decompõem a sentença em palavras
§   BUSCA, capacidades relacionadas ao estímulo à leitura com sentido e o reconhecimento por parte da criança, jovem e adulto, não só da letra mas do que está sendo lido

MÉTODO SINTÉTICO
ü   Ênfase ao processo de síntese e ao desenvolvimento da consciência fonológica.
ü    Letras - grupo de letras – fonemas – sons/unidades sonoras – precedem as unidades mais complexas
§    VALORIZA a progressão da letra/fonema/silaba, para chegar às palavras/frases/textos

PROCESSOS DO MÉTODO SINTÉTICO
ü  Alfabético ou Soletração - Deu origem ao termo “alfabetizar”.
§ Valoriza a relação do nome da letra com o som - nome das letras e suas formas, maiúsculas e minúsculas, em seqüência alfabética.
ü   Silábico - A unidade fonética é a sílaba.
ü    Fônico - Vai das partes para o todo.  A unidade mínima de análise é o som.

MÉTODO ANALITICO/ SINTÉTICO
ü   Seguidos “a risca”, com excessiva diretividade e sem considerar o entorno de quem aprende, encobre problemas que poderão aparecer mais tarde (às vezes nem tão tarde).

PROBLEMAS (Por desconsiderar):
ü   Outras habilidades que não sejam de memorização;
ü A própria linguagem, nas situações em que exige capacidades argumentativas;
ü    Momentos oportunos para desenvolver as funções psíquicas superiores e a internalização das argumentações e contra-argumentações, frutos da atividade do pensar sobre – refletir – e da tomada decisão.
ü    Outras formas de linguagens – escrita, pictórica, musical, etc.

ALGUMAS LIMITAÇÕES - ANALÍTICO/SINTÉTICO
ü   Leitura soletrante, sincopada.
ü   Não possibilita a autonomia e a descobertas.
ü   Dependente do professor.
ü   Excessivamente expositivo e repetitivo.
ü   Material didático muitas vezes não é interessante e nem versátil.
ü   Escolha de 23 palavras – geralmente padrão e desvinculada da vivencia de quem aprende.
ü   Outras.

AMBIENTE ALFABETIZADOR
ü     MESMO QUE:
§   A criança não saiba ler...
§  A criança “brinca” que está lendo.
§   O professor(a)deve ler histórias ( e não só contar).
§   A criança não saiba escrever...
§   Faz rabiscos e diz que é uma carta ‘escrita’ para alguém.
§    O professor(a) deve valorizar suas iniciativas
ü     IMPORTANTE
§  Substituir métodos e processos ‘tradicionais e artificiais’ por livros, por revistas, por jornais, por materiais de leitura que circulam na escola e na sociedade, etc.
§  A criação de situações que tornem necessárias e significativas práticas de produção de textos.

ü     INTENCIONALIDADE
§    O SABER.
§     AS APRENDIZEGENS.
§   Ler, Interpretar, Escrever, Preencher, Redigir, Opinar...
·  Jornais, revistas, livros, tabelas, quadros, formulários, carteira de trabalho, contas de água, luz, telefone, escrever cartas, bilhetes, telegramas, e-mail, poema, formulário, redigir ofício, requerimento e outros.

A apresentação dialogada sobre a linha de pensamento traçada, possibilitou considerações reflexivas e questionamentos sobre os pontos destacados e sobre as imagens apresentadas. Entre esta imagem, estavam aquelas que possibilitam a atividade de analise e síntese, para crianças antes do ensino fundamental.


Por fim, poder visualizar a ressignificação de saberes, não somente dos professores que desenvolvem suas praticas com ‘turmas de 1º ano’, mas também dos profissionais da infância, é sempre uma satisfação para mim. As praticas pedagógicas embasadas nestes saberes, pode nos apresentar uma concepção de alfabetização que inicia antes da escolarização, com leitura de figuras, fotos, rostos, capa de livros e outros,  numa relação viva e relacionada entre linguagens e compreensão de contextos.

Sônia Peixoto
Manaus-Amazonas
Julho/2016

Outras imagens apresentadas





Imagens disponíveis na internet




[1] FEEREIRO, Emilia. Alfabetização e cultura escrita. Entrevista concedida à Denise Pellegrini In Nova Escola – A revista do Professor. São Paulo, Abril, maio/2003.


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Sônia Peixoto
smapeixoto@hotmail.com
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