segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Voternidade: vivências relacionais.

Confesso que desconhecia a palavra... E por ter ouvido pela primeira de uma pessoa bastante espirituosa, pensei que ela estivesse “brincando”. Não era brincadeira! E... fui “apresentada” a este neologismo, que traz em seus significados o estado de ser, de vivência imbricada com presença e afeto, de querer ser feliz e fazer feliz com responsabilidades diferentes da maternidade e/ou paternidade. E assim, a intenção de sugerir registros sobre fatos relacionados às avós e netos foi aceita por mim.
Tenho lido e ouvido sobre este estado de ‘ser avós’ em mídias, em redes sociais, na convivência com os mais próximos e muitas vezes, não me sinto representada, como quando sustentam a ideia de que “com a vovó tudo pode” - fazer birra, mexer em gavetas, bagunçar sem organizar, riscar em paredes, falar aos gritos etc.
Outra ideia propagada sobre a voternidade é que “a melhor coisa do mundo”. Estas generalizações me incomodam por desconsiderarem as especificidades de cada ser, suas histórias e seus contextos. Penso que a voternidade não é diferente da vivencia processual de SER (mãe, pai, irmãos, tios, primos, amigos etc), com momentos prazerosos, outros não tão prazerosos e tantos incríveis e de pleno deleite.
Acredito que a voternidade pode disponibilizar presença, ajuda, relação de afeto considerando sempre a necessidade dos pais e tendo a lucidez de que os personagens principais da/na educação dos netos (e é bom que seja), são os pais. A voternidade precisa dar espaço necessário para que a maternidade/paternidade seja vivenciada.
Ao vivenciarmos a voternidade se fazem necessários alguns cuidados, como evitar dizer “como se faz”, o que, por si só, não é fácil, pois a tentação de interferir é grande. Muitas vezes visualizamos semelhanças em acontecimentos vivenciados por nós avós, enquanto mães/pais. Vemos, de certa forma, histórias se repetirem, mas é preciso respeitar o funcionamento, as regras, os combinados estabelecidos e que fazem sentido para o núcleo familiar.

Importante destacar que os estreitamentos de laços, na voternidade como em outras relações, necessitam de tempo de atenção, de ‘chamar atenção’, de ouvir, de dar limites, do esforço para estar presente, mesmo que distante fisicamente, pois os recursos tecnológicos disponíveis, não substituem o chamego, o olhar, o cheiro, as graças ditas/feitas quando se está junto.

Poder vivenciar a voternidade é privilegio de viver a maternidade/paternidade de outra forma e, quem sabe, melhor! É poder experienciar com os netos as dimensões da vida, para que em seus corações sejamos boas lembranças, e estas, sejam base para seus futuros fazeres e saberes como pais.
Acredito que esta palavra traz em si a possibilidade de refletirmos sobre as representações de avós e suas relações afetivas, na vida real e na literatura. Representações estas que podem favorecer “o exercício” de valores que humanizam.
Por fim, acredito que os valores que humanizam estão presentes nas relações estabelecidas, o que me faz lembrar de muitas situações reais vivenciadas pela/na voternidade.

Dentre estas lembranças, me veio à história O menino e seu amigo*, que narra a relação de Ziraldo, quando criança, e seu avô e a importância deste em sua vida. Agradeço à pessoa que me apresentou o neologismo que despertou em mim a intenção de fazer e socializar alguns registros sobre a temática.


* Menino e seu Amigo – Autor e Ilustrador Ziraldo Alves Pinto – Editora Melhoramentos, 2012.
Ziraldo vida dedicada à literatura e à ilustração para crianças. Artista gráfico, humorista, escritor de livros infantis, ilustrador, cartunista, caricaturista, dramaturgo, jornalista e bacharel em Direito. Nasceu em 24 de outubro de 1932 em Caratinga, Minas Gerais. Casou-se com D. Vilma e tem três filhos, Fabrizia, Daniela e Antônio.

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Sônia Peixoto
https://smapeixoto.blogspot.com.br/

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2 comentários:

  1. Realmente, ser avó é privilegio de viver a maternidade outra vez.

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