terça-feira, 14 de dezembro de 2021
terça-feira, 30 de novembro de 2021
AMOR AOS ESTUDOS (II)
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
O amor aos estudos (I)
domingo, 31 de outubro de 2021
Com olhos de crianças... (Tonucci)
Francesco Tonucci (Frato), mostra em seu trabalho uma visão do mundo com olhos de criança. Percebe-se o amor pela escola e pela educação, visualizado em seus desenhos/sátira.Sobre o Autor - Pensador, pedagogo e desenhista, o italiano Francesco Tonucci é uma das vozes mais ativas e influentes do mundo no que diz respeito à participação social da infância na discussão pública sobre o futuro das cidades. Nascido em 1940, em Fano, pequena cidade localizada às margens do mar Adriático, Tonucci trabalhou como professor já na década de 60, quando pôde conhecer de perto o cotidiano escolar, experiência que deu base para a sua concepção de educação e para a crítica ao modelo escolar vigente. “A escola segue sendo para poucos. O primeiro desafio, portanto, ainda é como fazer com que a escola seja para todos – e para cada um”, aponta o italiano em entrevista exclusiva para o Educação e Território. Sob o pseudônimo Frato, o autor publica uma série de quadrinhos em que discute de forma irônica o cenário escolar e a estrutura familiar contemporânea. “A escola da minha neta de nove anos é muito parecida à minha escola de setenta anos atrás. E não podemos mais suportar isso, considerando como o mundo mudou.” Célebre por ter criado a iniciativa “Cidade das Crianças”, que aposta na transformação das cidades a partir do olhar das crianças que nela habitam, Francesco Tonucci defende que as políticas públicas urbanas têm como tarefa garantir o direito ao brincar de meninos e meninas. FONTE - https://educacaoeterritorio.org.br/
sexta-feira, 29 de outubro de 2021
Fragmentos... (Rubem Alves)
Quem não planta jardins por dentro, não planta jardins por fora e nem passeia por eles. (Rubem Alves)
Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciados cursos de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar... Ninguém quer aprender a ouvir. (Rubem Alves)
"Sem a educação das sensibilidades todas as habilidades são tolas e sem sentido." (Rubem Alves)
"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes". (Rubem Alves)
“Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.” (Rubem Alves)
“Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.” (Rubem Alves)
“Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa” (Rubem Alves)
“Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe.” (Rubem Alves)
“Um livro é um brinquedo feito com letras. Ler é brincar.” (Rubem Alves)
“A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente” (Rubem Alves)
“Quem tenta ajudar uma borboleta a sair do casulo a mata. Quem tenta ajudar um broto a sair da semente o destrói. Há certas coisas que não podem ser ajustadas. Tem que acontecer de dentro pra fora.” (Rubem Alves)
“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente. Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...” (Rubem Alves)
“Há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.” (Rubem Alves)
“Meu único desejo, meu tema musical, meu diamante é a educação.” (Rubem Alves)Sobre o Autor - Rubem Azevedo Alves foi um psicanalista, educador, teólogo, escritor e pastor presbiteriano brasileiro. Foi autor de livros religiosos, educacionais, existenciais e infantis.
quarta-feira, 29 de setembro de 2021
Filhos... (Khalil Gibran)
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos, porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria: pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.
Sobre o Autor - Khalil Gibran Khalil (1883-1931) foi um filósofo, escritor, poeta, ensaísta e pintor libanês. Khalil Gibran nasceu em Bicharré, nas montanhas do Líbano, no dia 06 de dezembro de 1883. ... Vivia com seu pai, sua mãe, um irmão e duas irmãs.
sexta-feira, 10 de setembro de 2021
As mãos (Elena Barnabè) “Conversas com minha avó”
“Vovó, como
você lida com a dor?”
“Com
suas mãos, querida. Se você fizer isso com a sua mente, a dor em vez de
abrandar, endurece ainda mais”.
“Com
suas mãos, vó?”
“Sim. Nossas mãos são as antenas de nossa alma. Se você as faz se mover costurando, cozinhando, pintando, brincando ou afundando-as na terra, você envia sinais de cuidado para a parte mais profunda de você.
E
sua alma clareia porque você está dando atenção a ela. Então, ela não precisa
mais enviar-lhe dor para ser notada”.
“As
mãos são realmente tão importantes?”
“Sim,
minha menina. Pense nos bebês: eles começam a conhecer o mundo graças ao toque
de suas mãozinhas.
Se você olhar para as
mãos de pessoas idosas, elas contam mais sobre suas vidas do que qualquer outra
parte do corpo.
Diz-se que tudo o que é feito à mão é feito com o coração. Porque realmente é: mãos e coração estão conectados.
Os
massoterapeutas sabem muito bem disso: quando tocam o corpo de outra pessoa com
as mãos, eles criam uma conexão profunda. É precisamente dessa conexão que
vem a cura.
Pense
nos amantes: quando suas mãos se tocam, eles fazem amor da maneira mais sublime”.
‘As
minhas mãos avó ... há quanto tempo não as uso assim!”
“Mova-as,
minha menina, comece a criar com elas e tudo dentro de você se moverá. A
dor não passará. Mas se tornará a mais bela obra-prima. E não vai doer mais.
Porque
você terá conseguido bordar sua essência”.
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
Impossível é não Viver (José Luís Peixoto)
Se te quiserem convencer de que é impossível, diz-lhes que impossível é ficares calado, impossível é não teres voz. Temos direito a viver. Acreditamos nessa certeza com todas as forças do nosso corpo e, mais ainda, com todas as forças da nossa vontade. Viver é um verbo enorme, longo. Acreditamos em todo o seu tamanho, não prescindimos de um único passo do seu/nosso caminho.
Sabemos bem que é inútil resmungar contra o ecrã do telejornal. O vidro não responde. Por isso, temos outros planos. Temos voz, tantas vozes; temos rosto, tantos rostos. As ruas hão-de receber-nos, serão pequenas para nós. Sabemos formar marés, correntes. Sabemos também que nunca nos foi oferecido nada. Cada conquista foi ganha milímetro a milímetro. Antes de estar à vista de toda a
Além disso, é magnífico estragar a festa aos poderosos. É divertido, saudável, faz bem à pele. Quando eles pensam que já nos distribuíram um lugar, que já está tudo decidido, que nos compraram com falinhas mansas e autocolantes, mostramos-lhes que sabemos gritar. Envergonhamo-los como as crianças de cinco anos envergonham os pais na fila do supermercado. Com a diferença grande de não sermos crianças de cinco anos e com a diferença imensa de eles não serem nossos pais porque os nossos pais, há quase quatro décadas atrás, tiveram de livrar-se dos pais deles. Ou, pelo menos, tentaram.
O único impossível é o que julgarmos que não somos capazes de construir. Temos mãos e um número sem fim de habilidades que podemos fazer com elas. Nenhum desses truques é deixá-las cair ao longo do corpo, guardá-las nos bolsos, estendê-las à caridade. Por isso, não vamos pedir, vamos exigir. Havemos de repetir as vezes que forem necessárias: temos direito a viver. Nunca duvidámos de que somos muito maiores do que o nosso currículo, o nosso tempo não é um contrato a prazo, não há recibos verdes capazes de contabilizar aquilo que valemos.
Vida, se nos estás a ouvir, sabe que caminhamos na tua direção. A nossa liberdade cresce ao acreditarmos e nós crescemos com ela e tu, vida, cresces também. Se te quiserem convencer, vida, de que é impossível, diz-lhe que vamos todos em teu resgate, faremos o que for preciso e diz-lhes que impossível é negarem-te, camuflarem-te com números, diz-lhes que impossível é não teres voz.
terça-feira, 24 de agosto de 2021
Viver em Estado de Amor (José Tolentino Mendonça)
Respirar, viver não é apenas agarrar e libertar o ar, mecanicamente: é existir com, é viver em estado de amor. E, do mesmo modo, aderir ao mistério é entrar no singular, no afetivo. Deus é cúmplice da afetividade: omnipotente e frágil; impassível e passível; transcendente e amoroso; sobrenatural e sensível. A mais louca pretensão cristã não está do lado das afirmações metafísicas: ela é simplesmente a fé na ressurreição do corpo.
Sobre o Autor - José Tolentino Calaça de Mendonça, mais conhecido por José Tolentino de Mendonça, nasceu em Machico, Madeira, 15 de dezembro de 1965, é cardeal, poeta, professor universitário e teólogo.
sexta-feira, 30 de julho de 2021
BRINCADEIRAS: desenvolvimento infantil
É inquestionável a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil. Ela está inserida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sendo um dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento da criança: 1. conviver, 2. brincar, 3. participar, 4. explorar, 5. expressar e 6. conhecer-se.
A partir dos seis direitos, a BNCC estabeleceu também os campos de experiência, fundamentais para que a criança possa aprender e se desenvolver:
O eu, o outro e o nós;
Corpo, gestos e movimentos;
Traços, sons, cores e formas;
Escuta, fala, pensamento e imaginação;
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
A brincadeira é, portanto, uma parte fundamental da aprendizagem e desenvolvimento da criança, momento em que ela exercita todos os seus direitos e estabelece contato com os campos de experiência, como protagonista de seu desenvolvimento.
Particularmente, as brincadeiras têm um papel destacado nas Escolas Democráticas, cuja preocupação principal é a adaptação entre as novas gerações e as formas de trabalhar na Educação Infantil.
O que é uma Escola Democrática?
A Escola Democrática é um tipo de escola onde os processos de ensino e aprendizagem têm por princípio a participação das crianças como protagonistas na busca pelo conhecimento e dos educadores como facilitadores e inspiradores dessa busca.
A concepção democrática de escola respeita a criança como ser único que desenvolve seu aprendizado e é sempre capaz de encontrar a melhor maneira para construir seus conhecimentos, respeitando a heterogeneidade e a individualidade da comunidade escolar.
Além disso, propõe o compartilhamento das decisões entre crianças, gestores, educadores, funcionários e pais, inserindo toda a comunidade escolar no processo de decisão. Trata-se de uma escola que, sem dúvida, vem propondo a construção de uma educação para todos e sempre em busca de melhoria na qualidade do ensino.
A Escola Democrática tem o papel de, a partir da brincadeira, difundir conteúdo e estimular a interação da criança com seus pares, apresentando regras de convívio social e desafios, a partir dos quais a criança irá construir sua moralidade, afetividade, autonomia, conhecimento e socialização.
Nesse sentido, o brincar, de diversas formas, em diferentes espaços e tempos e com diferentes pares, é responsável por ampliar e diversificar o universo infantil, criando novas possibilidades.
As participações e as transformações introduzidas pela criança na brincadeira devem ser valorizadas, tendo em vista o estímulo ao desenvolvimento de seu conhecimento, imaginação, criatividade, experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
Qual é o papel do facilitador nas brincadeiras?
A Escola Democrática parte do princípio que ao educador cabe promover o estímulo da criança pela busca de conhecimento, facilitando o exercício dessa busca por meio de brincadeiras, respeitando e valorizando a diversidade de seus entes e os repertórios culturais que afloram – tanto do grupo como individualmente.
Portanto, o adulto é observador e não deve interferir , a menos que haja a manifestação da criança com pedido de ajuda ou orientação ou, ainda, quando a criança encontra obstáculos, mantendo o cuidado em não mudar a ordem e os comandos estabelecidos na brincadeira/coleta/coleções/construções.
O espaço é organizado pelo professor/facilitador de modo a estimular as brincadeiras, sua seleção, as atitudes de cooperação entre as crianças, instigando a socialização do espaço lúdico e sempre respeitando a vontade de seus atores.
O papel do professor/facilitador na brincadeira é de observador, elaborando registros daquilo que a criança mostrou durante o brincar, observando as diferentes linguagens sociais, afetivas e emocionais de cada criança.
Por que o brincar é importante para o desenvolvimento infantil?
O momento da brincadeira é uma oportunidade de desenvolvimento para a criança. Através do brincar ela aprende, experimenta o mundo, possibilidades, relações sociais, elabora sua autonomia de ação e organiza suas emoções.
O principal objetivo da brincadeira é explorar. Para uma criança pequena, tudo é experimento, até jogar e brincar com o prato de comida. A brincadeira é um espaço para explorar sentimentos e valores, assim como para desenvolver suas habilidades.
A brincadeira surge de objetos estruturados e não estruturados, disponibilizados para as crianças. A partir da brincadeira, observamos que a exploração e a sequência lúdica dependem, única e exclusivamente, de cada criança ou, por vezes, de um grupo de crianças dispostas a compartilhar o brincar.
Através do brincar e a partir do sentimento que aflora em cada brincadeira, a criança faz a leitura do mundo e aprende a lidar com ele, recria, repensa, imita, desenvolvendo, além de aspectos físicos e motores, aspectos cognitivos, bem como valores sociais, morais, tornando-se cooperativo, sociável e capaz de escolher seu papel na sociedade.
Quando a criança tem a oportunidade de escolha, que inicia com o brincar, ela exercita a sua liberdade e assim se torna uma criança mais observadora e crítica, não aceitando com facilidade que seja comandada.
Para enfrentar o mundo, temos que ser sociáveis, manifestar desejos e expressar opiniões, assim, a criança precisa saber o seu papel, seja na sua casa, na escola, na rua, no seu bairro, por fim, na sociedade para, a partir desse conhecimento, apropriar-se de suas escolhas.
No brincar a criança explora, coleta, seleciona, coleciona e constrói conforme a sua vontade e/ou através de observações de experiências anteriores. Assim, ela aprende a elaborar suas reflexões, estratégias, independência e criatividade, permitindo que aumente a sua experiência e do grupo na qual está inserida.
As brincadeiras contribuem no desenvolvimento infantil de forma decisiva, construindo um adulto que acredita em seu potencial transformador, cultivando dentro de si uma forte vontade de viver em um mundo melhor.
Como as crianças brincam?
Para as crianças, tudo pode virar um brinquedo .
Muitas vezes elas brincam com matérias que chamamos de não estruturadas, como canos de PVC, tocos de madeira, panelas, pratos de plásticos, travessas/bacias de plástico, vasilhas com tampas, talheres de plásticos e muitos materiais de cozinha, jogos de encaixe, alinhavos, bambolês, carros, bonecas, fantoches etc.
A partir da exploração desses materiais, as crianças constroem as brincadeiras e a imaginação voa .
Os materiais devem ser selecionados conforme a faixa etária e grupo que está sendo trabalhado e a exploração acontece. A música também é muito atrativa, assim como contação de histórias.
O importante é garantir que o brincar aconteça em vários momentos durante o dia da criança e que ela seja sempre protagonista da brincadeira.
FONTE - Este artigo foi redigido por SPES Infantil – Serviço Social da Paróquia São Paulo Apóstolo. Postado em ago 08, 2019. Disponível em https://www.phomenta.com.br/papel-brincadeiras-desenvolvimento-infantil? Acessado em 26/07/2021.
IMAGENS - Sábado Divertido/ MAKURU - 2020.
terça-feira, 27 de julho de 2021
A arte de ser avó (Rachel de Queiroz)
Quarenta anos, quarenta e cinco… Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem suas alegrias, as suas compensações – todos dizem isso, embora você, pessoalmente, ainda não as tenha descoberto – mas acredita.
Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meu Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos cheios de problemas que hoje são os filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres – não são mais aqueles que você recorda.
E então, um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis – nisso é que está a maravilha. Sem dores, sem choros, aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino seu que lhe é “devolvido”. E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário, causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.
Sim, tenho certeza de que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes, que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixados pelos arroubos juvenis.
[…]
E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: “Vó!”, seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.
[…]
Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho – involuntariamente! – bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois o sorriso malandro e aliviado porque “ninguém” se zangou, o culpado foi a bola mesmo, não foi, Vó? Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague…
mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras e a primeira mulher a receber o Prêmio Camões. Foi também jornalista, tradutora e teatróloga. Seu primeiro romance "O Quinze", ganhou o prêmio da Fundação Graça Aranha.
terça-feira, 29 de junho de 2021
O tempo (Bráulio Bessa)
Sempre vivo e
indeciso,
ora corre, ora voa,
consegue curar
feridas,
no mesmo instante as
magoa.
Ninguém escapa do
tempo
invisível feito o
vento
que toca qualquer
pessoa.
O tempo me modelou,
me arrancou do meu
ninho,
clareou os meus
cabelos,
me bateu, me fez
carinho.
O tempo me fez voar,
me ensinou a caminhar,
mas não mostrou o
caminho.
Por tanto tempo o tempo
fez papel de diretor,
um roteirista confuso,
ora ódio, ora amor,
gritando silencioso,
tão claro e misterioso
feito o mar pro
pescador.
O tempo me fez poeta,
artista, palco e
cenário,
me fez imaginação,
aí, encontrou um
páreo,
pois, para o tempo, o
artista
sempre foi um
adversário.
e faz parar o ponteiro
que faz o dia ser
noite
e último ser primeiro,
e que tem a ousadia
de determinar o dia
que será o derradeiro.
A liberdade da arte
deixa o tempo
aprisionado,
faz o relógio da vida
adiantado, atrasado,
e num segundo de paz
toda guerra se desfaz
se o relógio for
parado.
Já que o tempo é infinito
e o artista o domina,
ser eterno e ser
mortal
talvez seja minha
sina,
atuar num espetáculo
que nunca fecha a
cortina.
A única previsão
que é certa sobre o
tempo
é que ele vai passar.
Por isso cada momento
deve ser aproveitado,
vivido e depois
guardado
na caixa do
pensamento.
O tempo está sempre
vivo
num grande
desassossego,
inquieto, inconstante,
é pancada e é chamego,
é solução e problema.
O tempo é só um poema
dizendo: já fui, já
chego.
cordelista, declamador e palestrante brasileiro.
Nascimento: 1985, em
Alto Santo, Ceará.
quarta-feira, 23 de junho de 2021
De quem é a mochila? "Ética e Mochila Escolar (Içami Tiba)"
Já há algum tempo, pesquiso sobre alguns aspectos relacionados à educação nas "entradas e saídas" de algumas instituições escolares.
E em muitos destes episódios vejo a ausência de pontos importantíssimos e que possivelmente serão sentidos por essas crianças e/ou jovens em sua relações com "o outro" e até com eles mesmos.
Alguns deste pontos estão relacionados à autonomia, ao respeito, a solidariedade, ao coletivo, dentre outros.
Encontro em textos de Içami Tiba a representação de minhas reflexões/ preocupações...
Ética e Mochila Escolar (Içami Tiba)
"É quando o discípulo está pronto
que o mestre aparece."
outras mães, querendo dizer: "Que mãe desnaturada: deixa o filho soterrado sob a mochila". A mãe precisa devolver os olhares, dizendo: "Quão cegas e submissas elas estão sendo aos próprios filhos, que logo irão chamá-las de escravas e perceber nelas já uma pontinha de inveja por alguém estar conseguindo o que elas sempre desejaram... "É bem provável que já no dia seguinte essa mãe encontre algumas parceiras para sua felicidade.