Comunidades de Aprendizagens: O que significa?
Tenho participado
de momentos ricos em discussões sobre experiências educativas inovadoras de
forma mais intensa durante a aproximadamente há um ano.
A intencionalidade de
transformações de contextos educativos e relacionais nos remete a necessidade
de pensar, de sentir e de querer possibilidades de transformações de vidas
pelas relações dialógicas entre todos envolvidos nos processos relacionais e
isso, extrapola os limites físicos das instituições escolares.
Diante desta
necessidade e diante do vivenciado, muitos são os questionamento e as
“observações comprovadas” que motivam e/ou desanimam a permanecer nestas buscas
e nos leva a constantes questionamentos, tais como: O que preciso ressignificar
em mim e na minha vida? O que me faz
permanecer “na luta” desta busca? Que função desempenho diante de minha
participação nas ações que intencionam estas “transformações”? O que esta sendo
coerente ou não da minha parte diante do que tem sido vivenciado durante este
processo?
No que se relaciona ao grupo,
também tenho outros tantos questionamentos: Os processos de transformação, de
ressignificações de concepções, de posturas têm realmente a intencionalidade
ancorada nas e pelas relações dialógicas? A “intencionalidade, mesmo que não
esteja clara, está em ver ‘vontades realizadas”? A tão falada ‘democracia’, será
defendida desde que correspondam as concepções individuais? Estamos dispostos a
abrir mão de algumas “opiniões e convicções” diferentes das minhas, em aceitar
o diferente, a diversidade?
Os inúmeros questionamentos expressados
acima e que não se esgotam neles, foram de certa forma, respondido e/ou
ressignificados nas participações de encontros com a educadora Maria do Pilar Lacerda[1],
nos dias 19 e 20/05/2016: no bate papo sobre ‘Qual é a escola que sonhamos?’ com
equipe do Cmei Hermann Gmeiner, na ‘Observação participativa & Conversa’
com equipe da Escola Municipal Waldir Garcia, na conversa com educadores das
Divisões de Educação Infantil e Ensino Fundamental, com formadores da DDPM, com
as equipes da Escola Waldir Garcia, Cmei Hermann Gmeiner, com os representantes
do GT Educação Integral, da DDZs, e do Conselho Municipal de Educação, sobre a
temática ‘Por que é necessário transformar/inovar a educação básica? E ainda,
na Roda de conversa ‘Do que falamos quando falamos de educação integral?’
promovido pela UEA.
No bate papo sobre ‘Qual é a
escola que sonhamos?’ após as apresentações e colocações dos participantes
sobre a temática, Pilar pontuou alguns aspectos interessantes: lembrou inicialmente
o momento delicado e critico por que passa a educação brasileira, destacou que
a escola é local de inovação e de reconhecimento do novo, ainda que muitas
destas práticas sejam de séculos passados, falou sobre a importância da
identidade da escola democrática e de leituras/estudo sobre os autores, Paulo
Freire, Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro. Chamou atenção sobre o documento Manifesto
dos Pioneiros, de 1932, considerado como sendo de renovação educacional, onde
um segmento da sociedade, considerada como elite intelectual, viam a
possibilidade de intervir na educação brasileira, ainda que estes fossem de
posições ‘ideologicamente’ contrárias, deu relevância à elaboração do projeto
político pedagógico com definição clara dos objetivos de aprendizagens, com
orientações e definições de ações relacionadas a assembléias e sobre o
protagonísmo das crianças e jovens diante das aprendizagens. Pilar finalizou
este momento, fazendo duas referencias ligada a temática proposta: uma, ao
personagem “Miguilim” de Guimarães Rosas, onde o deslumbramento se faz presente
nas vivencias, experiências afetivas e observações, por parte deste às pessoas
e coisas do seu entorno, após ter sido diagnosticado com miopia. E outra a
Ubiratan D’Ambrosio, matemático que contribuiu e assinou importantes documentos
para a educação, como a Declaração de Veneza de 1986 e Carta da
Trandisciplinaridade de 1994.
Na conversa com a equipe da
escola Waldir Garcia, Pilar solicitou que escrevêssemos três características e práticas
relacionadas a uma escola democrática. Após as falas e considerações no grupo,
pediu que fossem localizados “pontos de atenção” que contrariam a proposta de
Educação Integral e indicou Jaqueline Moll, autora de livro e outros textos
sobre Educação Integral como fonte para ressignificar e consolidar a temática
deste encontro.
Na Semed e com os vários
seguimentos citados acima, a conversa focou a temática ‘Por que é necessário
transformar/inovar a educação básica?’ Acredito este momento nos remeteu a
reflexões sobre o aprender a aprender, a ter ferramentas dos saberes para
transformar e inovar conhecimento, a trabalhar a concepção de autonomia e
respeito, etc. Após a abertura e considerações inicias a gestora da Escola
Waldir Garcia, apresentou o trabalho que esta sendo desenvolvido nesta unidade
escolar com base na concepção de escola de educação integral, desde o inicio deste
ano letivo. Fez considerações sobre vários aspectos: a adesão à concepção por
parte dela, dos professores, dos pais, enfim de toda comunidades escolar; a
realização das assembléias; as mudanças quanto a troca do ‘sinal’ que orienta a
organização dos tempos, por música; a criação, por sugestão das crianças, da
caixa de brinquedo, de leitura, para serem usados na hora do recreio bom; das metodologias, para as
salas de referências e para as oficinas; das resistências, aflições; etc. A
seguir Pilar, fez referencia a fatos que representam inovação em escolas
publicas brasileira dando destaque a concepção de “cidades educadoras” onde a
escola se apropria da cidade e é entendida como sendo território de educação,
por possibilitar vários recursos para o desenvolvimento da educação integral,
atualmente no Brasil são vinte cidades filiadas a esta proposta. As “cidades
educadoras” buscam a excelência acadêmica, tendo os seguintes princípios: escola
como espaço comunitário, cidade como espaço educador, aprender na cidade/espaço
educador, valorização do aprendizado vivencial e formação de valores.
Na roda de conversa promovida
pela UEA - ‘Do que falamos quando falamos de educação integral?’, Pilar fez inicialmente
uma fantástica viagem histórica sobre a situação da educação no Brasil,
possibilitou aos participantes um exercício mental de localização de perdas, de
lacunas dentro do cenário educacional brasileiro e respondeu a vários
questionamentos.
Por tudo isso, entendo que, mais
que falar sobre experiências inovadoras, comunidades de aprendizagens se faz necessário
buscar clarificar em primeiro lugar, para nós mesmos, a intencionalidade de
inovação. A seguir, buscar ressignificar concepções, aprofundar saberes e estes
serem mais que informações, mais que conhecimento. Que sejam saberes pensados,
interpretados, criticados, sentidos, que sejam transformados em vivências e se
potencializem nas relações dialógicas entre os sujeitos que se envolvem
ativamente nos processos de aprender: gestores, professores, estudantes e
familiares. E assim, a sociedade concretizará a transformação do contexto
educativo e a transformação de vidas em comunidades de aprendizagens, ou seja, que
os espaços escolares sejam mais que preparatório, mais que ‘aprender’ de forma
mecânica, mas que sejam espaço de desenvolvimento de potencialidades, de formação
de sujeitos autônomos, com responsabilidades sociais, que vivenciem o “dar
voz”, o pensar, o argumentar, que promovem a participação ativa de todos
envolvidos no processo de aprendizagens.
Sônia Peixoto
Manaus, 23/05/2016.
[1] Maria
do Pilar Lacerda Almeida e Silva, ex-Secretaria de Educação Básica do MEC e
hoje é diretora da Fundação SM.
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Gostei do texto, chegou em boa hora pra mim.
ResponderExcluirComo se escreve colocando só o nome? (sem precisar colocar URL, que não sei o que é)
ResponderExcluirInfelizmente não poderei dar esta informação. Sou uma 'eterna aprendiz' em algumas tecnologias. Mas em uma postagem na apresentação a Letícia deu uma dica e que já foi seguida. Escreveu como Anônimo e se identificou no texto.
ExcluirValeu Letícia!!!
Acho que não tens a dimensão de o quanto este texto foi importante pra mim. As perguntas que fazes me deixou inquieta. Acho que estou repetindo algumas posturas que pensava ser antigas mas que estão tão presentes em mim. Localizando meus sentimentos como pedes sempre: Triste, pensativa e querendo mudar.
ResponderExcluirSaudade de ti! Laura Gomes
Fico muito feliz nessas trocas de experiencias, as angustias são muitas, segundo Helena Singer as pessoas que participam de uma experiencia de Educação Democrática são responsáveis por ela; prazer pelo conhecimento; Não há hierarquia no conhecimento, seguindo a linha de raciocínio desses três princípios, analisando e refletindo sobre os encontros que participei e das minhas leituras realizadas, ainda estou devendo os registros... No chão da escola para que realmente possamos declarar eu faço parte de uma escola democrática, precisamos amadurecer muito sobre esse conceito, falo enquanto escola, equipe escolar precisa compreender esse sistema e se conhecer, visto que a aprendizagem na Educação Democrática baseia-se estimulo e no exercício do desejo de conhecer e ensinar. Ressalto que a dificuldade maior é a responsabilidade de cada profissional em entender que faz parte desse processo e que juntos iremos crescer democraticamente. Licia Maciel
ResponderExcluirLícia, tens razão. A responsabilidade de entender o processo integral é de todos. Me coloco a disposições no que puder contribuir. Grata pelo teu registro!
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